A Rota dos Amores
É curioso.
Durante muito tempo estive convencido que o Alentejo só interessava, mesmo, aos alentejanos, aqui paridos e crestados pelo Suão.
Sempre achei que, quem como eu, não gostava de “almece” nem de sopa de beldroegas com queijo, jamais poderia considerar-se alentejano de gema, embora aqui nascido e criado até à altura de dar de frosques, antes que a cozedura do Sol ou as frieiras do Inverno lhe tolhessem os movimentos e a vontade.
Mas a verdade é que as grandes ligações não começam sempre pela paixão e muito raramente perduram para além dela.
O Alentejo tem que ser descoberto a pouco e pouco, como num striptease.
Há que retirar-lhe os véus com que cobre a sua nudez, um a um, sem avidez nem destempero.
A sua esbelta figura se projecta então no sobreiro solitário, em contraluz do sol nascente, para se espraiar diáfana pela campina alargada a todo o horizonte derredor.
A luz perpendicular veraniça tira sombras até dos olhos e da alma.
A ligação vai-se estreitando no gosto das coisas simples, do pão e do alho, azeite e coentros, rábano e “toicinho”.
A linearidade substitui a redondeza no olhar e no pensamento.
Apostamo-nos em seguir em frente guiando-nos pelas estrelas e pelos cheiros da murtinheira, do alecrim, da alfazema, do rosmaninho, do poejo e dos fenos cortados.
A entrega total torna-se compulsiva à medida que se caminha na descoberta do recôndito desta calmaria e temperança. Tempo de espera de melhor tempo, que se espelha no arrastar da fala e no cantar das décimas à padroeira de ouvidos duros de mercador.
Despojos de Roma e das suas grandezas e misérias. Despojos da sabedoria de árabes nas artes do amanho da terra e do uso da água e na cor tisnada do rosto das gentes.
Gostava que a descoberta tivesse sido só minha. Ela vai-se fazendo todos os dias por gente que tem outra cor na pele e nos olhos, que fala sem acento ou com línguas desentendidas, gente que leva mais do que traz, mas que um dia se renderá.
Ninguém pode desmerecer desta serenidade campaniça.
Durante muito tempo estive convencido que o Alentejo só interessava, mesmo, aos alentejanos, aqui paridos e crestados pelo Suão.
Sempre achei que, quem como eu, não gostava de “almece” nem de sopa de beldroegas com queijo, jamais poderia considerar-se alentejano de gema, embora aqui nascido e criado até à altura de dar de frosques, antes que a cozedura do Sol ou as frieiras do Inverno lhe tolhessem os movimentos e a vontade.
Mas a verdade é que as grandes ligações não começam sempre pela paixão e muito raramente perduram para além dela.
O Alentejo tem que ser descoberto a pouco e pouco, como num striptease.
Há que retirar-lhe os véus com que cobre a sua nudez, um a um, sem avidez nem destempero.
A sua esbelta figura se projecta então no sobreiro solitário, em contraluz do sol nascente, para se espraiar diáfana pela campina alargada a todo o horizonte derredor.
A luz perpendicular veraniça tira sombras até dos olhos e da alma.
A ligação vai-se estreitando no gosto das coisas simples, do pão e do alho, azeite e coentros, rábano e “toicinho”.
A linearidade substitui a redondeza no olhar e no pensamento.
Apostamo-nos em seguir em frente guiando-nos pelas estrelas e pelos cheiros da murtinheira, do alecrim, da alfazema, do rosmaninho, do poejo e dos fenos cortados.
A entrega total torna-se compulsiva à medida que se caminha na descoberta do recôndito desta calmaria e temperança. Tempo de espera de melhor tempo, que se espelha no arrastar da fala e no cantar das décimas à padroeira de ouvidos duros de mercador.
Despojos de Roma e das suas grandezas e misérias. Despojos da sabedoria de árabes nas artes do amanho da terra e do uso da água e na cor tisnada do rosto das gentes.
Gostava que a descoberta tivesse sido só minha. Ela vai-se fazendo todos os dias por gente que tem outra cor na pele e nos olhos, que fala sem acento ou com línguas desentendidas, gente que leva mais do que traz, mas que um dia se renderá.
Ninguém pode desmerecer desta serenidade campaniça.
Etiquetas: Cogitações
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home