terça-feira, junho 19, 2007

O Cágado Vivaço

É chamá-lo pelo nome “Artista” e logo responde à chamada.
Vem balançando a carcaça, cabeça no ar, afundar-se numa poça que foi feita de propósito para ele, onde lhe é servido o pequeno-almoço composto preferencialmente de caracóis esmigalhados, bocado por que é perdido.
Na sua falta também lhe serve o granulado da ração dos cães, devidamente esmagado e amolecido na água da poça.
Ali fica escutando as conversas, fazendo companhia com o seu ar bonacheirão, e o seu apetite espreitando algum suplemento.
De vez em quando faz umas escapadelas até ao batatal, ao meloal, onde se queda nas horas de maior calor, beneficiando da humidade da rega e da sombra providencial. Com o “capot” ao sol de Verão não duraria uma hora. Ele lá se defende.
Quando era miúdo também tinha um cágado sem nome, mais pequeno, que me assustava, à noite, com os seus tamancos matraqueando o soalho do quarto.
No final do Outono desaparecia, para reaparecer carregado de cotão na Primavera seguinte, vindo de esconderijos que arranjava nos locais mais esconsos da casa, onde ninguém lhe punha a vista em cima, mesmo durante as limpezas.
Há dias atrás, o “Artista” e um companheiro ou companheira, não sei bem, apanharam um susto de morte. O Scrappy, cão brincalhão e de fino olfacto, foi descobri-lo não sei onde e apareceu com ele na boca.
Quando o chamava para me dar a presa, fugia com o “Artista” na boca, andando nisto uns bons cinco minutos, até que se cansou e resolveu entregar-mo são e salvo.
O outro companheiro, fui dar com ele de pernas para o ar tentando em vão voltar-se. Lá lhe dei uma ajudinha e desapareceu até hoje.
Mas o “Artista” está de todo afeito à folia de cães e humanos. Já vem comer à mão como qualquer bichinho de estimação. Estica o pescoço até ao seu limite para resgatar o prémio pela sua humilhação diária.
Como infelizmente muita gente também por aí!

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