quinta-feira, junho 14, 2007

Um Lusitano na terra dos Vikings (a)

Corria o ano de 1996.
Voei para Bergen na Noruega para participar numa reunião do grupo de trabalho encarregado de dar expressão a um projecto de formação a distância, usando as novas tecnologias da informação, sobre segurança do trabalho.
A aproximação ao aeroporto desta cidade é qualquer coisa de espectacular e dramática em simultâneo para quem tenha, como eu, medo de voar. É feita a baixa altitude, sobrevoando miríades de pequenas ilhas e ilhéus, sem que nos apercebamos da existência de qualquer coisa parecida com uma pista de aterragem grande ou pequena.
Já com as rodas do pássaro a tocar a copa das árvores dos ilhéus, onde se situam magníficas residências com escadarias até à água e embarcações atracadas a pequenos cais, sentimo-lo guinar quase noventa graus para a direita e do meio das vivendas, jardins e parques salta-nos de repente uma pista, não muito extensa, a escassos metros, onde pousámos placidamente.
A ideia que a Noruega dá para quem chega assim, vindo do ar, é a de uma enorme pedra de gelo, que já foi picada num dos lados para preparar uma caipirinha.
Apesar de ser Junho, a temperatura máxima nunca ultrapassou os treze graus centígrados. As montanhas ainda apresentavam nalguns pontos restos de gelo e neve. De quando em vez, umas manchas negras e outras esbranquiçadas com alguma dimensão, de lagoas resultantes do degelo, cavadas na rocha como se fossem chícaras de chocolate ou café com leite, bem visíveis quando o avião perdeu altura, na procura da pista de Bergen.
A reunião, que decorreu nas instalações da STATOIL, empresa norueguesa de petróleo, processou-se de forma verdadeiramente exemplar, em termos organizativos, técnicos e sociais.
A agenda era pesada, o tempo para a cumprir escasso, mas o empenho total. Dois aspectos marcaram-me especialmente. O primeiro, à chegada, ainda no átrio do edifício, quando um técnico da empresa fez conhecer as primeiras instruções sobre a segurança das instalações, indicando numa planta enorme existente ao centro, a localização das salas onde decorreria a reunião, os acessos, as escapatórias em caso de sinistro, os locais de encontro, os sinais de alarme, as práticas proibidas e as zonas protegidas para fumadores.
As refeições, frugais, foram tomadas no local dos trabalhos e tiveram a duração de trinta minutos.
A segunda surpresa foi para mim o ser obrigado a fumar numa espécie de aquário, todo em vidro, com aspiração de fumos, onde me senti um macaquinho enjaulado. Foi ali que decidi deixar de fumar, embora só uns meses mais tarde o tivesse concretizado.
Foi-nos oferecido um jantar num restaurante situado nos fiordes a cerca de uma hora de distância, em embarcação rápida. Estimo que tenhamos percorrido à volta de trinta milhas até lá. Cais de atracação com escadaria pela encosta suave acima, até um edifício que havia sido residência da realeza local, em tempos passados.
Ementa repleta de iguarias características, que não são propriamente do meu agrado, mas que nem por isso deixei de apreciar, à base de peixe cru, fumado e cozido em vapor, do arenque ao salmão e bacalhau, passando por outros desconhecidos de todo.
A reunião acabou com uma visita a uma plataforma petrolífera junto a Trondheim, que me foi de todo impossível acompanhar por razões de ordem familiar, incontornáveis.
No Hotel, uns pedidos simpáticos, práticos e económicos - Se achar que o pode fazer, use as toalhas mais do que uma vez. Poupa detergente, agressivo do ambiente, e água que é um bem escasso e precioso. Se usar o creme de banho que se encontra na embalagem hermeticamente fechada, em vez de champôs e cremes comerciais, ajuda-nos a proteger a floresta pela contaminação das águas por produtos que não respeitam o ambiente.
Na rua um trânsito moderado. De vez em quando uns carros com matrícula verde, que são os que estão autorizados a utilizar gasóleo verde, ou seja gasóleo agrícola ou de outra forma subsidiado.
Resumindo: Noruega um país organizado, com dinheiro, com preocupações ambientais e com educação acima da média.
Por outro lado, pareceu-me um povo triste e que bebe bastante, em certos dias.

(a) Todos os nórdicos são de alguma forma identificados com os Vikings, embora estes sejam oriundos, especialmente, da Suécia

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