sexta-feira, março 23, 2007

Morte por simpatia

Armas e munições matam mesmo depois de “mortas”.
Penso não me enganar muito ao afirmar que os “post” guerra têm feito, em todo o mundo, milhares ou mesmo milhões de vítimas. Não serão todas mortais, mas mesmo assim vítimas, que já não havia razão para o terem sido.
Se durante as guerras há justificação, embora cruel, para que vítimas aconteçam, já não é facilmente entendível e aceitável que fora desses períodos conturbados da vida dos povos, o mesmo aconteça.
Mas infelizmente é assim.
A seguir à segunda guerra mundial, milhares de pessoas, muitas delas crianças, foram vítimas do rebentamento de granadas de mão perdidas, de granadas de obuses não deflagradas, de minas terrestres e marítimas não levantadas.
Durante anos, as flotilhas de draga minas dos Países Baixos passaram a pente fino as rotas do Mar do Norte, incluindo o Canal de Inglaterra, tendo procedido ao rebentamento de muitos milhares de minas.
Da maior parte era conhecida a posição, mas muitas delas devido a correntes fortes e mau tempo, haviam sido desviadas dos seus locais e arrastadas para longe. Algumas chegaram mesmo a dar à costa e a encalharem nos areais das praias de veraneio do norte da Europa.
Se pensarmos nas centenas de conflitos armados que depois desta Grande Guerra estalaram por toda a parte, desde a Europa (Balcãs), África (Quase toda), Médio Oriente (Israel, Palestina, Afeganistão, Irão, Iraque), Extremo Oriente (Índia, Paquistão, China, Coreia, Vietname, Cambodja, Laos, Birmânia, Timor) e todas as que me não lembro ou tiveram expressão menor, quantas armas abandonadas, quantas minas por levantar, quantas ainda à espera duma vítima!
Mas pior do que isso! As armas nucleares! Mesmo as que não estão em uso, ou que foram desmanteladas! Quanto urânio enriquecido por aí espalhado, por não se sabe onde!
E os desperdícios nucleares? E os reactores dos submarinos nucleares desmantelados? Para onde vão?
Não sendo um especialista em armamento, sei um pouco por obrigação de profissão. Sei também que munições e explosivos requerem um tratamento muito cuidadoso quer quanto ao seu manuseamento, quer no seu armazenamento e custódia.
Os perigos, mesmo com explosivos convencionais, são enormes por incorporarem substâncias instáveis, muito sensíveis a temperaturas elevadas, humidades, choques, correntes eléctricas, radiações, campos magnéticos, etc.
Grande parte destas substâncias rebenta por simpatia, isto é, rebentando uma rebentam todas as que se lhe juntam em redor.
As regras a vigorar para cada um dos aspectos focados são variadas e do rigoroso cumprimento resultará a maior ou menor segurança de quem com eles é obrigado a conviver.
O “facilitismo”, a indisciplina, a ignorância tecnológica, levará necessariamente à ocorrência de acidentes graves que poderão pôr em perigo a vida de centenas ou milhares de pessoas.
Não sei o que se terá passado no Maputo, mas certamente aconteceu uma falha provocada por um dos três aspectos focados.

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