sábado, março 31, 2007

Apelos em Dó Maior

A filarmónica primaveril abre o seu concerto matinal com ternos de melros alcoviteiros, do harpejar melódico das andorinhas em tarefas domésticas, entrecortado pelos acordes monocórdicos do arrulhar das rolas turcas empoleiradas nos fios eléctricos, acabando em crescendo harmónico de pintassilgos, tentilhões e pardais do telhado, nos seus bailados e correrias nupciais.
O apelo do Sol subindo em latitude tem resposta sinfónica adequada. Ao lado, o mesmo apelo nos gritos lancinantes dos pavões, limitados na escolha e no espaço, quais trompas dando início à grande caçada.
Mais longe, porém, outro apelo nos chega no coro furioso de ladridos e uivos de dezenas de cães famintos, encarcerados pelo único crime que cometeram – o terem nascido duma raça usada para dar caça a javalis e outras espécies maiores. Obrigados a dieta rigorosa, terão no terreno boas razões para procurar satisfação duma necessidade básica – comer.
Parece duma desumanidade atroz, nos tempos actuais, manter naquelas condições de higiene e trato dezenas de animais, com o fim único do negócio.
O apelo destes infelizes animais, além de reflectir o seu mal estar físico e temperamental, são também razão de mal estar e preocupação para quem vive nas redondezas, pelo barulho infernal e permanente a que sujeitam os seus ouvidos e pelo risco que constituem em caso de evasão.
Chegam notícias de que o próprio tratador terá sido mais do que uma vez vítima de ataque por parte deles, tendo tido necessidade de os abater a tiro.
Os apelos são feitos para serem ouvidos e correspondidos. Infelizmente, nem todos chegam aos destinatários certos.

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