segunda-feira, março 26, 2007

Ginopheles

O navio demandara vagarosamente o fundeadouro, por nós inventado, na Baía de Palma, encostado a umas pedras, onde sempre havíamos feito boas pescarias, sobretudo à noite.
O ferro foi largado, sob guincho, para não correr o risco de unhar nalguma rocha e termos problemas ao suspender.
Depois de chegar ao fundo, largámos mais uma quartelada de amarra do que as necessárias, para evitar ir à garra.
Num bote de borracha, de imediato arriado, deslocámo-nos a terra onde o cabo de mar nos aguardava, juntamente com o chefe de posto e dois cipaios.
A troca de galhardetes do costume, a combinação duma caçada aos javalis, em abundância na zona, e uma jantarada a bordo, sempre bem recebida por aquela gente que poucas oportunidades tinha para conviver.
Ao jantar, entre os convivas, encontrava-se um homem de negócios da zona, que esperava a vinda dum cargueiro que lhe levasse o mangal que tinha já cortado, aguardando embarque.
Era um homem enorme, quase redondo, das muitas tardes passadas à espera que os trabalhadores africanos cortassem o mangal de ninguém, fazendo a sua fortuna, bebendo gins tónicos, uns atrás dos outros.
Segundo dizia, era a única profilaxia do paludismo que sempre fizera e, até ao momento, com resultados positivos.
Explicava ele que era um azar enorme apanhar a doença. Primeiro era preciso ser mordido por um Anopheles, entre as milhares de espécies que por ali abundavam. Dentro dos Anopheles, havia que ser mordido por uma fêmea, que já diminuía a probabilidade. Por fim seria necessário que a dita estivesse infectada. Era muito azar! Segundo ele!
Acredito que os mosquitos morressem ao beber aquele gin com algum sangue, que corria nas suas veias.

Nota: São mais de 300 milhões de pessoas afectadas pelo paludismo em todo o Mundo, com um milhão de óbitos por ano.

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