segunda-feira, março 05, 2007

A Relógio da Vida

O tempo que nos vai matando, é por nós contado de forma muito diferente de acordo com as situações em que nos encontramos, da idade que temos, dos sonhos que nos animam, dos projectos que queremos ver concretizados, das angústias que nos afligem e sarrazinam. Nas minhas situações de embarque, quando a navegar, desejávamos ansiosamente a chegada ao porto. Achávamos por isso que a contagem do tempo a navegar era lenta e no porto imensamente rápida.
O mesmo aconteceu com a minha estadia na Guiné, em situação de guerra. O tempo era pegajosa e perigosamente vagaroso. Contávamo-lo num rolo de papel higiénico que previamente tínhamos desenrolado e onde anotáramos, em contagem decrescente, a data do termo da comissão, a partir do momento da chegada. Cada dia, com pompa e circunstância, como na cerimónia de içar ou arriar da bandeira, lhe arrancávamos uma folha numerada.
Lembro-me, quando menino, de ir com a minha mãe a Lisboa de camioneta. Chegados à bilheteira a minha mãe pediu um bilhete e meio. O senhor apontou para mim e perguntou à minha mãe que idade tinha eu, respondendo ela de acordo com a necessidade de pagar meio bilhete, que eu tinha seis anos, ao que retorqui que estava a minha mãe enganada porque eu já tinha quase oito. A exactidão do tempo que nunca mais tive.
Quando se aproximava um exame, daqueles determinantes, o raio do tempo corria desalmadamente, provocando arritmias cardíacas e angústias existenciais progressivas. Os momentos de espera, nos encontros amorosos, intermináveis e desesperantes, que nos faziam passar pela cabeça as coisas mais estrambóticas em relação ao objecto do nosso afecto.Os momentos de ternura que depois partilhávamos, pareciam-nos desajustadamente curtos. Resumindo e concluindo, o tempo que nos falta para atingir um objectivo que nos agrada, que nos perturba de forma positiva, que nos empolga e galvaniza é sempre lento, enquanto aquele que nos aproxima de situações desagradáveis, de momentos de grandes decisões ou de risco evidente, de situações desconhecidas ou terminais, é sempre implacavelmente acelerado, na nossa perspectiva.
Adivinhem, pois, como será, neste momento, essa contagem para mim.

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3 Comments:

Blogger CaCo said...

E que tal viver melhor o "hoje" e deixar-se de contagens decrescentes sempre a olhar para o "amanhã"?
Beijos.

6/3/07 11:29  
Blogger Unknown said...

É por viver bem o "hoje", que me preocupo com o amanhã.
Bêjos

6/3/07 15:37  
Blogger Bolinha said...

Bem vamos lá a ver se agente se organiza, escreva o que escrever eu gosto e se dependesse de mim o seu relógio era daqueles que eu não parava nunca, já sei que teve uns dias de descanço nos seus posts mas Mulheres Cheguei para maçar ah ah ah

6/3/07 20:18  

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