Faróis e Faroleiros
Uma das vantagens dos idosos é poderem repetir-se sem que daí advenha mal ao mundo.
Pois bem, uma das descobertas na minha longa e variada vida de Marinha, foi a
capacidade demonstrada pela generalidade dos profissionais que, sob a designação de faroleiros, representam muito mais do que essa figura mítico-romântica dos salvadores de navios, empoleirados na falésia, garantindo o alumiamento dos equipamentos à sua guarda ou fazendo soar as roncas, rompendo o nevoeiro.
O seu isolamento forçado pela situação inóspita da maioria dos faróis onde prestavam serviço, fez deles tocadores de todos os instrumentos.
Desde pescadores, electricistas, mecânicos, pedreiros, carpinteiros, pintores/caiadores, cozinheiros, marinheiros experimentados na condução de pequenas e médias embarcações, agricultores e até enfermeiros, estes homens, de poucas falas na sua maioria, tinham no gesto e na acção o seu modo de comunicar e viver.
Claro que as tecnologias que entretanto invadiram essa área vieram alterar profundamente o seu modo de estar e de fazer, remetendo-os para funções mais especializadas em locais bem mais cómodos, às vezes bastante longe dos faróis que vigiam e controlam remotamente por processos electrónicos.
Ainda assim, fica-lhes a memória do que já foram e o que ainda representam para os navegadores, que continuam a aferir os seus cálculos e leituras posicionais pela marcação dos faróis, tanto de dia como de noite.
Vem isto a propósito do lançamento pelos CTT duma série de selos alusiva aos faróis portugueses e conjuntamente do livro da autoria do Cte Teixeira de Aguilar, “Faróis – a terra ao mar se anuncia”, que retrata de forma admirável a história e evolução da farolagem em Portugal, com ilustrações soberbas. Um postal ilustrado enviado pelos CTT ao coração dos marinheiros, filatelistas e duma maneira geral a todos os que gostam do mar e de faróis, com a ajuda fundamental do Cte Aguilar.
Falta agora fazer o historial dos faroleiros antes que a sua memória se extinga.
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