sexta-feira, julho 18, 2008

A Escrita, a cultura e companhia...

Para a gente se aventurar no campo da cultura, mesmo de forma iniciática, tem que ser a tempo inteiro e sem intervalos ou recreios, escolher um modelo ou um mestre e tentar ser proficiente.
Não é compatível com exigências profissionais permanentes redutoras de tempo e flexibilidade mental.
Antes e nos primórdios do século passado, as pessoas com preocupações de ordem cultural organizavam-se em tertúlias ou grupos com afinidade de interesses, aí desenvolvendo as suas pesquisas, reorientando tendências ou ganhando aceitação e não raras vezes o estrelato.
O canudo a pouco e pouco foi ganhando estatuto e criando elites.
Nas escolas do meu tempo era notório o fosso abissal entre classes sociais de origem dos alunos.
A proximidade cultural entre alguns alunos e professores cavava ainda mais o dito fosso, legando para segundo plano todos os que tinham que fazer a ascensão a pulso.
Hoje, as coisas já não se passam exactamente assim mas existe um outro aspecto caracterizador da situação que tem contornos não muito diferentes.
O ensino-aprendizagem assenta muito no livre arbítrio e na capacidade das escolas em meios humanos e materiais para o concretizar. Por outro lado, os alunos têm acesso facilitado a meios áudio visuais e tecnologias que ajudam imenso a interiorizar conceitos e a fazer precocemente escolhas, nem sempre acertadas, que dificultam o papel dos professores ou tutores para uma reorientação atinente às suas necessidades e capacidades.
Embora muito se diga e se grite sobre a ignorância em que hoje se tropeça a todo o instante, em qualquer lado, seria curioso estipular critérios para a definir.
Se bem me lembro, no meu tempo de liceu, éramos obrigados a ler três ou quatro obras clássicas consagradas pelo Estado Novo -
A Morgadinha dos Canaviais de Júlio Dinis, Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, O Auto da Alma de Gil Vicente e Os Lusíadas de Luís de Camões. Para além disso, só os alunos que escolhiam a área de letras tinham oportunidade de aceder a outros autores e obras.
As leituras hoje obrigatórias e recomendadas são muitas mais e de autores variados no tempo e no estilo, passando por Camões, Eça, Pessoa e Saramago.
Não existe aparentemente razão para que se diga que no nosso tempo é que era bom, só porque dávamos menos erros de escrita. Diria que não ousávamos dar erros de escrita para não nos tornarmos exímios na arte de apanhar reguadas.
Mas nunca tínhamos ouvido falar em OVNIS, em direitos humanos, em liberdade de expressão, em ideologias políticas, em higiene e saúde alimentar, em controlo de natalidade, em orgasmo feminino, em interrupção voluntária da gravidez, para só falar em coisas e situações já existentes.
Hoje, a maioria das pessoas conhece relativamente bem as técnicas para prevenir a gravidez ou as doenças sexualmente transmitidas, nelas incluída a SIDA. Já ouviu falar do genoma humano e em organismos geneticamente manipulados e bem assim as guerras que têm dado. Ninguém é alheio aos problemas que o nosso planeta enfrenta e à necessidade de recurso a energias alternativas.
Vai-se mais ao teatro e ao cinema, lê-se bastante mais e escreve-se muitíssimo e muitíssimo bem.
A Internet abriu as portas a todos os que têm vontade e, em muitos casos, vício de transpor para a escrita o que lhe vai na alma e é um espectáculo o que ali se encontra. Para não falar já nos escaparates onde o número de autores de língua portuguesa ocupa lugar de destaque.
A escrita aparece assim como uma voz levada pelo vento a todo o lado. Interventiva ou participativa, perigosa por vezes, mas viva.
No pouco tempo que resta para me fazer ouvir e para me envolver nestas questões de escrita, gostaria muito de lhe poder dar um cunho pessoal que a distinguisse dos demais, mas não consigo. Falta-me a arte e o engenho, mas também e sobretudo a roupagem que a cultura lhe empresta.
Fico-me assim pelo meu galho, embora tentando alcançar o que lhe está acima.
Penso, que por puro exercício físico!

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1 Comments:

Blogger platero said...

boa prosa, ó chefe

bom trabalho

abraço

18/7/08 23:10  

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