quinta-feira, janeiro 31, 2008

O Mascarilha


Estamos em época de tirar a máscara.
Quem brinca o ano inteiro ao carnaval político tem a obrigação de mostrar a cara no Entrudo.
Mas a mascarada continua. Houve mudança de mascarilhas, mas não da Fantasia. Essa mantém-se. E a Escola também.O porta-bandeira é o mesmo. A bateria está afinada. O tema não muda – Portugal na cauda da Europa.
A Escola faz escola e todos dançam ao ritmo certo.
As vozes desafinadas são caladas pelo rufar da bateria.
As outras escolas ainda são piores. Com música pimba uma, com som de cassete pirata outra, sem qualquer espécie de som nem de ritmo uma terceira. A única que ainda se vai ouvindo só tem, praticamente, porta-bandeira.
A escola mais votada, abre o desfile com um carro alegórico, que pretende demonstrar que as cimenteiras também servem para fazer cimento.
A ala das baianas, parece menos nutrida do que é costume, fruto do emagrecimento forçado a que os seus membros foram sujeitos.
O segundo carro alegórico mostra os esforços dos cientistas, no caso nanotecnologistas, para conseguir descobrir forma de materializar os aumentos dos vencimentos da função pública.
Segue-se a ala dos namorados, completamente despidos de preconceitos e de roupas, mas embrulhados na bandeira da Escola, fazendo malabarismos para dar nas vistas e ganhar um lugar ao sol.
Por fim, o carro mais representativo, artilhado de holofotes que a tudo e todos ilumina, cheio de foliões mascarados de SWATT, armas com sensor de visão nocturna, capacete de viseira holográfica e mastins com coleira de bicos. Gravitando à sua volta, em hologramas, aparecem padarias, cafés, restaurantes chineses, feiras do relógio e de Carcavelos, com muita gente de braços no ar a gritar.
E assim vai esta Escola e este Carnaval.
Valha-nos a 4ªFeira de Cinzas!

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terça-feira, janeiro 29, 2008

Estórias de Caça e Caçadores (2)


A noite caía sobre a várzea. O sol, há pouco escondido por trás dos choupos sem folhas, emprestava-lhes formas de almas penadas envoltas pelas chamas do inferno.
Sobre os tanques de restolho do arroz, uma neblina azulada começava a erguer-se, reforçando o quadro fantasmagórico.
No horizonte, viam-se de vez quando, cordões compridos de carraceiros procurando abrigo nocturno.
Os patos com quem tinha encontro marcado, demoravam a chegar. Tinha escolhido um dos tanques de arroz onde vira algumas penas deixadas na noite anterior por uns quantos nubentes.
A dado momento, não muito longe do local em que me encontrava, vejo aparecer um casal de patos reais, altos ainda, em missão de reconhecimento.
Com o chamariz começo a fazer-lhes o apelo de escolherem o meu tanque para a aterragem. Eles, pareceram ter entendido a mensagem fazendo um círculo sobre a posição em que me encontrava. Encolhi-me o mais que pode de encontro ao “ourique” do tanque e voltei a fazer o chamamento, enquanto continuava com os olhos a fazer o seu seguimento.
De repente, ouço um barulho de asas muito perto de mim, quase roçando a minha cabeça, enormes, brancas como um anjo da morte. Dei um salto para o lado, quase caindo dentro da água do tanque. Uma coruja respondera com um ataque, ao grasnar imitado dos patos que eu arrancara do chamariz.
Apanhámos, certamente os dois, um susto dos diabos.
E, com todo este teatro, de patos….. nem o grasnar.

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segunda-feira, janeiro 28, 2008

O Vigésimo Premiado


Bem que eu não queria falar de política e muito menos nacional. Seria porque estava tudo a correr bem. Porque finalmente Portugal estava a acontecer!
Mas não! Está tudo na mesma, para não dizer pior, porque se goraram expectativas. Porque se quis mostrar serviço muito depressa. E não aos portugueses. Aos tipos de Bruxelas. Que os números estão certos e que é melhor morrer à fome do que apresentar as contas erradas ou mal feitas.
Que somos bem comportados e que sabemos fazer as contas, bem feitinhas. E que até estamos a morrer melhor. Morremos em casa ou a caminho do hospital. Já não se morre nos hospitais portugueses.
Já nem é preciso frequentar as escolas para se ter diplomas, agora com as ”Novas Oportunidades”.
Mas isso já nós sabíamos há muito tempo. O exemplo já vinha de cima. Só que agora, está institucionalizado. O insucesso escolar já era.
O seguidismo mantém as mentes toldadas. Como é possível os socialistas reverem-se neste governo? Havia coisas erradas? Claro que havia e era necessário alterar. Mas para melhor!
Porque queremos nivelar sempre por baixo?
Ninguém contesta que era preciso equilibrar as contas, mas não desta forma e à custa de quem menos pode ou de quem menor capacidade de reivindicação tem – os trabalhadores do estado e os trabalhadores por conta de outrem, de forma generalizada.
Os países são constituídos por pessoas. Que nascem, vivem e morrem. Que devem nascer num meio apropriado e acolhedor. Que devem crescer e desenvolver as suas faculdades de forma equilibrada entre a família e a escola. Que devem contribuir com o seu trabalho produtivo e válido para ajudar a criar a riqueza, que deve ser redistribuída de forma criteriosa de maneira a manter uma boa assistência nos cuidados de saúde, a garantir equidade e celeridade na aplicação da justiça e proporcionar uma velhice calma e sem sobressaltos.
Se para isso é preciso ter atenção aos números, pois que se atente neles, com seriedade e de forma clara e transparente, mas sem que eles façam preterir as pessoas, que todos nós somos.
Dantes, era a economia que condicionava a política, através dos grandes interesses empresariais. Hoje, são os números da UE e a grande finança, de que os últimos eventos são bem uma mostra da promiscuidade que se estabeleceu entre ambos.
Que nos vendam o número da “sorte grande” e não o “vigésimo premiado” do conto do vigário.
Os maiores cegos, são certamente os que não querem ver!

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domingo, janeiro 27, 2008

Estórias de Caça e de Caçadores


Hoje tive mais uma jornada de caça aos tordos, quase sem tordos e sem espingarda, já que os primeiros vão rareando de ano para ano e a “escopeta” está como o dono: a pedir reforma total.
Já tinha desistido de procurar dois ou três tordos que derrubara, em virtude de terem caído no meio da seara, que já estava altinha com estas últimas chuvas, não facilitando a sua localização.
Venho a constatar ultimamente alguma dificuldade de distinguir estes pássaros, sarampintados de castanho e branco, quando caem no meio de pastos ou sargaços. Não sei se se trata de algum daltonismo meu ou se este mimetismo constitui dificuldade partilhada pela grande maioria dos caçadores.
Mas ia eu a contar, que depois dos tordos perdidos daquela forma, matei outro que foi cair na berma da estrada, local bem visível de onde me encontrava. Esperei melhor oportunidade para o recolher, já que estavam a entrar alguns pássaros.
Ouço o ruído dum carro a parar na estrada e qual não é o meu espanto quando vejo o seu condutor sair, baixar-se, apanhar o pássaro e, placidamente, voltar a entrar no carro e seguir.
Os pássaros já são poucos, eu aproveito-os mal e ainda por cima tenho que os partilhar com o excelentíssimo público!
É ou não é demais?

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quinta-feira, janeiro 24, 2008

Levados, levados, sim!


Curiosamente, Sócrates tem a virtude de trazer de regresso à política muita gente que dela se afastara por enfado e desleixo cívico.
Claro, que se pode dar ao luxo de nem sequer ouvir as críticas, de rever políticas, de fazer mudanças no executivo. Mas sabe que o espera em cada decisão que tomar, um combate, um dedo apontado.
Não se livra de ser o Governo que mais medidas impopulares tomou em nome do povo, que constitui grande parte do seu eleitorado.
As suas bases de apoio devem estar, pois, em desequilíbrio.
Nenhum partido liberal teria tomado tantas e tão gravosas decisões políticas em tão pouco tempo.
Resultados que justifiquem tão grande número de decisões de contenção, onde estão? De tudo, em tempo de crise, resta apenas a inabalável teimosia do senhor, aliada ao seu optimismo militante.
O serviço nacional de saúde, fruto de lutas travadas pelo partido socialista, está de pantanas pela mão de outro dito socialista, a economia recomenda-se ao dito serviço de saúde e a justiça para lá caminha, com os processos pendurados à espera de empurrão para o caixote do lixo, com os criminosos à tripa forra.
A educação é o que se vê e muito mais o que se ouve. Há que esperar que as “Novas Oportunidades” o sejam de facto, para tirar, pelo menos”in nomine”, os portugueses dos índices de analfabetismo galopante, em que ameaça caírem.
Da Defesa Nacional e dos Militares não dá sequer para falar, porque as asneiras têm sido umas a seguir às outras, sem ponta por onde se lhe pegue. Com avanços e recuos tácticos e sem uma estratégia definida e clara.
Uma espécie de guerrilha lançada contra as forças convencionais de defesa, com trilhas armadilhadas, acção psicológica e tentativa de desorganização da formatura. Submarinos de bolso infiltrados em águas interiores.
O Parlamento tomado, as oposições desordenadas, os sindicatos sem força, os tribunais sem capacidade de acção, lá vamos cantando e rindo ou gritando e chorando, tanto dá.

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Eu e as Novas Tecnologias


Não sou atrasado mental, julgo eu. Mas, as novas tecnologias sempre em evolução, intimidam-me. Do computador, sei apenas aquilo essencial para uso quotidiano. O processador de texto, a folha de cálculo básica, o “power point” básico, correio electrónico, um pouco de pesquisa na Internet e técnicas básicas de blogue.
Os telemóveis e as múltiplas funções baralham-me. Os formatos cada vez mais pequenos não foram feitos a contar com os meus dedões de lançador de peso. Falar ao telefone, se é a receber tudo bem, mas se tenho que marcar um número é sempre um desastre. Ou porque não tenho os óculos e não consigo ver os nomes agendados, ou os dedos apanham duas teclas se tenho que digitar os números.
As câmaras fotográficas e de vídeo digitais, com todas as performances possíveis e imagináveis, deixam-me estarrecido. O que vale é que se podem apagar logo a seguir as imagens.
O GPS, é outra complicação, pois acaba por me indicar sempre os caminhos que não desejo, passando o tempo todo a reformular percursos.
Tem imensas possibilidades, segundo me dizem, mas ainda não tive tempo de ler as instruções.
Os netos brincam com isso tudo e muito mais. As Play Station e os Nintendo, os hi-5, os i-Pod, os i-Fun e agora parece que também os i-Phone.
Todas estas máquinas infernais apelam ao uso individual, tornando as pessoas solitárias e tecnicistas em vez de as socializar e humanizar. Perde-se a sensibilidade e a afectividade, para já não falar do romantismo, para sempre afastado dos relacionamentos e até da própria estética.
As novas tecnologias invadiram também a nossa privacidade e entram-nos pela porta dentro através de cartões de crédito e de débito, de cartões únicos em que se faz o rastreio dos nossos movimentos, como se andássemos com uma pulseira electrónica, em liberdade condicionada. Vigiam-nos nos transportes públicos, nas lojas e não sei também se nas casas de banho.
Estamos todos a participar no Big Brother que sabe o que é bom e o que não presta para nós e nos pune se conduzimos em velocidade excessiva, se fumamos no café da esquina, se fazemos amor no elevador, ou se passamos um cheque sem cobertura.
De mim, já não conseguem muito mais do que assustar-me. Mas o que farão das gerações mais novas, todas estes instrumentos de vazio? Não é preciso fazer nada! Já se compra tudo feito! Pronto a deglutir sem saborear! E muito depressa, porque já está outra versão, outro modelo, uma novidade na forja!
Não é só, pelo dinheiro! Não é só, porque intimida! Mas é, sobretudo, pelo desperdício! E também pela falta de humanismo!
Percebe-se um pouco o apelo ao consumo desvairado, através de créditos fáceis até não sei quanto, pelo telefone, desta forma e da outra.
Por isso estamos tão endividados, porque não queremos ficar atrás na aquisição do último modelo, da última versão. Não nos lembramos que estamos a ser manipulados, conduzidos a esta situação, a esta dependência, como se de uma droga se tratasse.
E o curioso, é que alguns de nós, os que cumprem, que têm o cuidado de trazer as contas em ordem, de pagar os impostos, que não entram nas estatísticas dos créditos mal parados, são aqueles que têm a vida mais triste, preocupada, intranquila e que se arriscam a morrer de susto ou de ataque cardíaco.
Sou, pois, nesta era de tecnologias e de inovação, o patinho feio, para não dizer um atraso de vida!

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terça-feira, janeiro 22, 2008

Terapia do Fogo

Imagem daqui
Anos de papeis acumulados. Boletins de vencimentos, facturas da água, da electricidade, do gás. Extractos bancários e comunicações dos seguros.
Para o que as árvores são cortadas. Para nos fazerem a vida negra, com obrigações que nem sempre conseguimos suprir.
Deviam ser uns vinte quilos de papel sujo de tinta que as chamas devoraram.
Junto com essa papelada foi queimada a ramagem que resultou da poda das árvores de fruto. Cerejeiras, ameixeiras, pessegueiros, macieiras e pereiras foram “tosquiadas”, preparando-se para mais um ciclo de produção.
Este pulsar do tempo que no campo se mede assim, sem necessidade de recurso a relógios nem a psicólogos.
Cumpre-se o “borda d’água” e inspira-se fundo o cheiro da terra. Os problemas enterram-se ao arroteá-la.
O chamaréu só terminou já com “médios” acesos e com a lua a anunciar-se redonda que nem um tamanco.
Hoje, é dia de lobisomens e de contas saldadas pelo fogo libertador.
Nas notícias, as bolsas também parecem estar a arder.

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sábado, janeiro 19, 2008

Estórias de Escárnio e Maldizer


Estatura média, um cabelo grisalho liso com uma poupinha no alto, tipo cotovia, um ar untuoso de porteiro de Hotel de *****, gargalhando com requebros de tonalidade como pega a que fizeram cócegas. Beijava a mão das senhoras, como se estivesse a dançar o minuete num palácio em Versalhes ou a valsa em Viena. Dá-me as suas ordens...
Era assim, o Fernando. Matreiro qb, vingativo até onde custava dinheiro.
Estava a construir uma casinha lá na terra, apenas com 23 divisões assoalhadas. Nada que qualquer vencimento “muchuruca” não pagasse.
Gostava de se exibir em público, sempre com recurso a estórias pouco próprias para as circunstâncias, fazendo depois a festa, lançando os foguetes e apanhando as canas. Certa vez, falando do balanço e dos enjoos a bordo, numa tertúlia que incluía uma série de senhoras, não deixou de fazer referências, o mais realistas possível, ao quanto as mãos escorregavam pelos corrimãos das escadas de passagem nos navios, por força do vomitado. Não demorou a que ficasse a falar sozinho.
Noutra ocasião, referindo uma situação vivida nas terras e águas frias da Groenlândia e Terra Nova, fez questão de garantir que os pescadores fediam de tal forma, que era preferível meter o nariz num “porão de bacalhau”, do que cruzar-lhes a trilha.
Mas nem tudo era chato e mal cheiroso. O nosso Fernando, encharcava-se em “Aqua Velva”, odor que o precedia um bom bocado.
E, lá saíam umas anedotas, se bem que sempre ligadas ao seu espírito crítico das fraquezas humanas, por vezes com certa pilhéria.
Contava ele que tinha tido uma criada, nome dantes atribuído às actuais “auxiliares de serviço doméstico”, que disse a certa altura, a propósito de coisa nenhuma, que “uma amiga sua era tão porca, tão porca, tão porca, que até tinha entre os dedos das mãos, aquilo que a gente costuma ter entre os dedos dos pés”.
Muito gostava ele da porcaria.
Era certamente uma fixação. Às vezes isso, entranha-se.
Felizmente, não se pega!

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quinta-feira, janeiro 17, 2008

Estórias com sabor a sal


João Pedro, oficial antigo e de provas dadas nos draga-minas, na época áurea desta flotilha, em que foi conseguido um elevado nível de prestação, dela saindo um escol de marinheiros de eleição.
João Pedro era, de facto, um deles.
Como guarda-marinha, eu não pediria outro mestre. Era seu adjunto na faina do castelo do B.Dias, onde a sua experiência emprestava a toda a faina um cunho de operacionalidade e de bem fazer.
Passado pouco tempo, já ele me dizia para tomar conta das operações de largada e atracação e mais tarde também as de fundear e suspender.
A faina do castelo é de todas a mais visível e provavelmente em 90% das manobras a que envolve mais riscos para o navio, se não for conduzida com cuidado, com presteza e desenrascanço, algumas das vezes.
Na primeira saída do navio para o mar com a nova guarnição, em PTB (Período de Treino Básico), ao demandarmos o fundeadouro de Sesimbra, apercebeu-se o João Pedro, de que o navio ia com velocidade demasiada para lograr com êxito a posição de fundear. Disso foi dada conta à ponte, primeiro pelo telefone de cabeça e peito do marinheiro da faina, depois de viva voz pelo próprio João Pedro e por fim com uma série de impropérios pelo meio de quem já estava farto de avisar e nada estava a ser feito como era devido. Um acenar de mão do comandante fez finalmente perceber que a mensagem fora bem recebida, segundos antes do navio começar a lavrar pela praia, até se deter, a uns quantos metros do forte de Sesimbra, inclinar ligeiramente para um dos bordos e, por fim, começar a andar a ré, ganhando seguimento, até se quedar no local, em que foi dada ordem para largar o ferro.
Dada volta à faina, o João Pedro foi à ponte e de forma desabrida, invectivou o guarda-marinha navegador com tudo o que lhe ocorreu, que deveria ter avisado o comandante das distâncias e velocidades de aproximação ao fundeadouro, etc, etc. Nessa altura o comandante voltou-se para o nosso amigo e disse-lhe:
- Não bata mais no guarda-marinha. Se quiser, bata no capitão-de-mar e guerra, que é só dele a culpa.

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quarta-feira, janeiro 16, 2008

AB - Agricultura Biológica


Água de abastecimento público imprópria para consumo, no Sardoal.
Um bocadinho do iceberg que nos ensombra e nos empurra definitivamente para outras formas de entender e defender a precariedade de meios naturais disponíveis.
O Homem destruiu mais em meio século, de dito desenvolvimento, do que desde que se ergueu nas patas traseiras para se transformar naquilo que passou a designar-se por “Homo Erectus” e depois “Homo Sapiens”, até meados do século passado.
Com frequência, mais do que desejável, vêm a público notícias relacionadas com desastres ecológicos graves como descargas perigosas nos cursos de água, como derrames de hidrocarbonetos e outros produtos poluentes ou nocivos para a vida animal e vegetal.
A pouco e pouco, vão-se esgotando ou contaminando os recursos de que nos servimos para sobreviver neste planeta, que deveria manter-se azul, mas que se vai tornando cada vez mais cinzento.
A agricultura, é de longe a actividade mais poluente nos termos em que é praticada e para que possa considerar-se rentável pelos produtores.
Já desde o princípio do século passado que vários movimentos de opinião, com vínculos religiosos ou “não desenvolvimentistas”, muito ligados à terra e a tudo aquilo que ela representou ao longo de milénios para o equilíbrio humano, se levantaram contra as novas práticas agrícolas, de cultura intensiva das terras com recurso ao uso de fertilizantes e herbicidas químicos, de síntese, pondo em risco equilíbrios naturais.
Após uma verdadeira cruzada, em que muitos destes movimentos se viram desfeiteados nos seus intuitos por radicalismos de base, foram conseguidos triunfos claros na conquista de vontades e de interesses, conseguindo, em acção agora coordenada, o reconhecimento das suas razões não só morais e de posicionamento perante as agressões ao meio ambiente, mas também da viabilidade técnica e económica da utilização correcta da terra em benefício de toda a humanidade, creditadas em termos científicos.
A designada Agricultura Biológica, ou Orgânica, ou ainda Ecológica, tem hoje apoios da UE e constitui já em países como a Áustria e a Dinamarca, uma percentagem elevada da área usada na agricultura desses países e tem também expressão significativa em muitos outros países europeus, Estados Unidos e Japão.
Nessa agricultura, não há lugar para produtos químicos de síntese, respeitando-se a terra como se de um ser vivo se tratasse, pois ela encerra em si um mundo de variedades de seres vivos, que ajudam na transformação dos elementos orgânicos e minerais necessários às plantas, aos animais que delas se apascentam e ao homem, topo deste ecossistema.
A terra respondeu ao “Homo Sapiens” com o “Humus Sapiens”.
Estará aí, porventura, uma das formas de evitar que aconteçam mais “sardoais” por esse mundo fora e aqui, em Portugal, em especial.

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terça-feira, janeiro 15, 2008

Até amanhã!

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Ganhar o futuro é obra que se deve ir construindo todos os dias, com cada decisão que se toma, com cada movimento que se intenta.
Os tropeções são atrasos nessa luta, nessa competição, nesse desafio. Cambaleios, podem comprometer as metas a atingir, desmobilizam e desarmam, alongam a jornada.
As cambalhotas para a frente e para trás que nos preenchem o dia a dia, transformando-nos em saltimbancos, equilibristas, domadores e malabaristas, vão acabar por fazer-nos cair do trapézio ou do arame e partir a espinha. Ou acabarmos comidos pelas feras. Ou, no mínimo, levarmos com uma maça no nariz.
Hoje, constrói-se o futuro com slogans, sobre siglas que não entendemos, com apelos que não descortinamos.
Não existem auto-estradas para o futuro. Só becos e travessas. Mal iluminadas. Mal frequentadas. Sem policiamento e sem segurança de qualquer espécie. O futuro é já ali. Mas é mentira. Não está lá nada. Só o caos.
As crianças do futuro vão nascer em ambulâncias ou em clínicas altamente especializadas, que passam “pedigree”.
As das ambulâncias vão gastar as suas vidas à procura duma razão para terem nascido.
As tecnologias do futuro vão ajudar a perceber o que agora se passa, quando já for passado.
Até amanhã, se já não for tarde!

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sábado, janeiro 12, 2008

"Homem Grande"

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Significa, na Guiné, ao mesmo tempo, homem grande na idade e no saber, de experiência feito.
O respeito que lhe é devido, passa por ter palavra a dizer em tudo que respeite à família e à comunidade em que se insere.
A sua morte é “chorada” durante dias, em que familiares e amigos, alguns vindos de longe, lhe prestam a última homenagem, comendo as vacas que criou e guardou para o evento.
É assim, nas comunidades com memória.
Hoje, a velhice já não desperta qualquer respeito nem sequer consideração, por muito que tenha contribuído para o bem-estar da família ou do grupo onde se insere.
Tirando alguns, poucos, que teimam em manter-se no “activo”, desenvolvendo trabalho válido, ainda que nem sempre apreciado, todos os outros se vêem atirados para a valeta por aqueles que mais amaram e pelos que usufruem o resultado do seu trabalho, do seu empenhamento, da sua dádiva, às vezes até de sangue.
As estátuas que se erguem, raramente exaltam o velho respeitável comum, que toda a sua vida foi dedicada a fazer o dia a dia dos outros, trabalhando a terra que dá o pão e o vinho, nas fábricas montando os carros que os transportam, no mar lutando contra ventos e marés, em casa fazendo os filhos que lhes irão suceder.
Nos tempos que correm, os velhos são melhores mortos que vivos. Deixam de ser um peso para o Estado, através dos encargos sociais que representam em vida. Deixam de ser um fardo que os filhos carregam e, nalguns casos, podem tornar-se a galinha dos ovos de oiro, depois de fecharem os olhos.
Só lhes exaltamos as qualidades depois de desaparecidos, para que os outros nos revejam nelas, só o fazemos por necessidade de referências pessoais, como as que carregamos no nosso CV, para o mercado de trabalho.
Hoje, deu-me uma destas! Deve ser por em breve ingressar na designação guineense de “homem grande” e não ter vacas para alegrarem o meu “choro”.

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quinta-feira, janeiro 10, 2008

Ainda o Lisboa-Dakar

Consta que foram importados camelos não sei de onde e porque preço, para promoção do Lisboa-Dacar, que acabou por não se realizar, como é do conhecimento geral.
Não se entende, pois, que isso tenha sido necessário.
A escolha da zona sul do Tejo para a localização do futuro aeroporto de Lisboa, veio demonstrar que, afinal, havia camelos de sobra neste país. Ou tão somente dromedários.

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terça-feira, janeiro 08, 2008

Cantar as Janeiras

A economia americana está de rastos! Mas ainda bem que a portuguesa está o máximo!
Quem é que hoje se dá ao luxo de ter uma economia paralela tão importante e tão auspiciosa quanto a primeira?
Qual é o país que tem mais restaurantes “per capita”?
Tudo isto, porquê? Porque dá uma trabalheira do caraças uma pessoa estar a inscrever-se no Fundo de Desemprego, arriscar-se a que lhe arranjem um emprego “muchuruca” qualquer, que nem dê para passar umas feriazitas na Serra Nevada ou nas Caraíbas. Nem pensar!
O problema põe-se, às vezes, é com os gajos da ASAE ou lá o que é isso! Fazem-se caros, agora, mas não há-de ser por muito tempo! A gente sabe como isto funciona! Entram com as unhas afiadas, a arranhar a torto e a direito, mas depois, devagarinho, as coisas vão ao caminho. Ora se vão! Quem é que não gosta de passar umas feriazinhas no Hawai ou no Brasil?!
Só quem for parvo ou tenha medo de andar de avião, como eu!
Mas a economia?! Essa, recomenda-se! Até permitiu um aumento de se lhe tirar o chapéu, sobretudo nas “pensões” dos reformados. Vão mesmo ter que “pensar” a melhor forma de gastar a massa que vão receber de retroactivos.
E o desemprego, esse, só existe para preparar os desempregados para os novos empregos que irão surgir, fruto do investimento que tem sido feito nas novas tecnologias e na inovação.
Chama-se a isto, preparar o futuro! Com afinco, com amor e com solidariedade! Diria mesmo com serenidade, parafraseando um conhecido treinador de futebol.
Quanto à justiça, nem quero falar! Para quê? Vale a pena?
Os resultados estão à vista! Só não vê quem não quer ou quem for cego de todo!
Cá por mim, já marquei uma consulta no oftalmologista, para o próximo Janeiro de 2009, se lá chegar, com a graça de Deus e a ajuda dos meus amigos bem colocados na vida!

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segunda-feira, janeiro 07, 2008

O Maior Espectáculo do Mundo


Ai, o circo vem aí! Quem chora também ri, com tanta palhaçada…
Não sei se estão lembrados, uns, ou se alguma vez ouviram alguém cantarolar, outros, uma cantiga muito velha que anunciava o maior espectáculo do mundo – O Circo.
Pois bem! Hoje, ao deambular pela Rua do Coliseu em Lisboa, qual não é o meu espanto quando, de entre a mole de gente que à hora de almoço se fazia movimentar por aquela zona alfacinha, aparecem dois "cívicos" empoleirados em monorodas eléctricas (não sei o nome daquele aparato), quais equilibristas de circo em monociclos. Atrás deles, o riso escarninho do maralhal bera da área e o sorriso complacente da maioria dos transeuntes, perante a novidade da polícia metropolitana lisboeta.
Depois das Marés Vivas e de Asas nos Pés, só os Gatos Fedorentos e os Chuis Equilibristas da PSP.
Alguma vez tínhamos que ir à frente. Do riso, claro!

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quinta-feira, janeiro 03, 2008

Call Girl

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Até que enfim que consegui ver bem tratada, em termos cinematográficos, uma fita portuguesa.
Um guião que pareceu saído directamente dum dossier da PJ, uma mulher bonita com pisar de passerelle, uns malandros bem conseguidos à portuguesa, uma fotografia um pouco desfocada, no tempo, dos alentejanos.
Finalmente, um autarca corrupto, coisa nunca vista neste país de princípios morais impolutos e uns estrangeiros corruptores e causadores de todas as desgraças que nos acontecem.
Filme com movimento, com representações pouco teatrais, bastante naturais. Cenas de sexo, mais sugeridas do que concretizadas. Gostei.
Só não entendo para que foi necessário colocar na boca de todos os actores tanto palavrão, tanta grosseria. Não quer dizer que ela não exista no meio em que se desenrola a trama, mas julgo que houve exagero na sua exploração.
Penso que, mesmo para uma fita que se quer para bilheteira, se abusou para além do aceitável e suficiente, no desuso da palavra e no uso sistemático do palavrão e da alusão mais que óbvia a sujeições sexuais de todas as tonalidades.
Outra coisa que não entendo, é o facto do filme ter como nome um anglicismo, sugerindo uma linguagem contida na definição da profissão mais antiga do mundo, e depois se esparramar em descantes de bordel.
Porque não, terem escolhido para título do filme o mais adequado, o mais português dos nomes porque são conhecidas as mulheres de aluguer, dando-lhe depois um qualitativo adjectivante –
Puta Fina (às vezes) - por exemplo.

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quarta-feira, janeiro 02, 2008

A Utopia

Imagem daqui
Há qualquer coisa de utópico na Livraria Byblos, aberta recentemente num espaço comercial novo, nas Amoreiras, ao lado do Amoreiras Plaza. Como se se tratasse da concretização dum sonho, como ficção tornada realidade.
Dois andares completos com 3 300m2 de área, dão guarida a 85 quilómetros de livros, duma forma a que não estamos habituados. Todos à mão de semear. Com não sei quantos plasmas de informação e pesquisa temática, por títulos, por autores. Com espaços de leitura. Em que apetece estar. E ler. E em que é possível encontrar todos os títulos que se publicam em Portugal. Um apelo à leitura e ao amor pela escrita.
Logo à entrada uma citação de alguém que muito deve ter amado a palavra escrita - “
Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria. Jorge Luis Borges”.
Pode entender-se a citação, literalmente.
Aqui fica a sugestão para uma visita quase obrigatória.

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terça-feira, janeiro 01, 2008

Réveillon de 2007/2008


Conta-se que Gago Coutinho, desembarcando no Ilhéu das Rolas, um dos circundam S.Tomé e Príncipe, ali fez os cálculos que lhe permitiram desenhar no terreno, simbolicamente, a Linha do Equador.
Foi então que se estendeu sobre ela e comentou que estava deitado com a cabeça no Hemisfério Norte e os pés no Hemisfério Sul.
Pois hoje, do mesmo modo, vou tentar começar esta “espécie de escrita” no ano de 2007e acabá-la no ano de 2008. Será, de alguma forma, uma homenagem a essa figura de marinheiro e de aviador, que foi precursor com Sacadura Cabral da “Aviação Naval”.
Eu estou também a tentar ser precursor da “Bolina de Sequeiro”.

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