quinta-feira, janeiro 17, 2008

Estórias com sabor a sal


João Pedro, oficial antigo e de provas dadas nos draga-minas, na época áurea desta flotilha, em que foi conseguido um elevado nível de prestação, dela saindo um escol de marinheiros de eleição.
João Pedro era, de facto, um deles.
Como guarda-marinha, eu não pediria outro mestre. Era seu adjunto na faina do castelo do B.Dias, onde a sua experiência emprestava a toda a faina um cunho de operacionalidade e de bem fazer.
Passado pouco tempo, já ele me dizia para tomar conta das operações de largada e atracação e mais tarde também as de fundear e suspender.
A faina do castelo é de todas a mais visível e provavelmente em 90% das manobras a que envolve mais riscos para o navio, se não for conduzida com cuidado, com presteza e desenrascanço, algumas das vezes.
Na primeira saída do navio para o mar com a nova guarnição, em PTB (Período de Treino Básico), ao demandarmos o fundeadouro de Sesimbra, apercebeu-se o João Pedro, de que o navio ia com velocidade demasiada para lograr com êxito a posição de fundear. Disso foi dada conta à ponte, primeiro pelo telefone de cabeça e peito do marinheiro da faina, depois de viva voz pelo próprio João Pedro e por fim com uma série de impropérios pelo meio de quem já estava farto de avisar e nada estava a ser feito como era devido. Um acenar de mão do comandante fez finalmente perceber que a mensagem fora bem recebida, segundos antes do navio começar a lavrar pela praia, até se deter, a uns quantos metros do forte de Sesimbra, inclinar ligeiramente para um dos bordos e, por fim, começar a andar a ré, ganhando seguimento, até se quedar no local, em que foi dada ordem para largar o ferro.
Dada volta à faina, o João Pedro foi à ponte e de forma desabrida, invectivou o guarda-marinha navegador com tudo o que lhe ocorreu, que deveria ter avisado o comandante das distâncias e velocidades de aproximação ao fundeadouro, etc, etc. Nessa altura o comandante voltou-se para o nosso amigo e disse-lhe:
- Não bata mais no guarda-marinha. Se quiser, bata no capitão-de-mar e guerra, que é só dele a culpa.

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