sábado, janeiro 19, 2008

Estórias de Escárnio e Maldizer


Estatura média, um cabelo grisalho liso com uma poupinha no alto, tipo cotovia, um ar untuoso de porteiro de Hotel de *****, gargalhando com requebros de tonalidade como pega a que fizeram cócegas. Beijava a mão das senhoras, como se estivesse a dançar o minuete num palácio em Versalhes ou a valsa em Viena. Dá-me as suas ordens...
Era assim, o Fernando. Matreiro qb, vingativo até onde custava dinheiro.
Estava a construir uma casinha lá na terra, apenas com 23 divisões assoalhadas. Nada que qualquer vencimento “muchuruca” não pagasse.
Gostava de se exibir em público, sempre com recurso a estórias pouco próprias para as circunstâncias, fazendo depois a festa, lançando os foguetes e apanhando as canas. Certa vez, falando do balanço e dos enjoos a bordo, numa tertúlia que incluía uma série de senhoras, não deixou de fazer referências, o mais realistas possível, ao quanto as mãos escorregavam pelos corrimãos das escadas de passagem nos navios, por força do vomitado. Não demorou a que ficasse a falar sozinho.
Noutra ocasião, referindo uma situação vivida nas terras e águas frias da Groenlândia e Terra Nova, fez questão de garantir que os pescadores fediam de tal forma, que era preferível meter o nariz num “porão de bacalhau”, do que cruzar-lhes a trilha.
Mas nem tudo era chato e mal cheiroso. O nosso Fernando, encharcava-se em “Aqua Velva”, odor que o precedia um bom bocado.
E, lá saíam umas anedotas, se bem que sempre ligadas ao seu espírito crítico das fraquezas humanas, por vezes com certa pilhéria.
Contava ele que tinha tido uma criada, nome dantes atribuído às actuais “auxiliares de serviço doméstico”, que disse a certa altura, a propósito de coisa nenhuma, que “uma amiga sua era tão porca, tão porca, tão porca, que até tinha entre os dedos das mãos, aquilo que a gente costuma ter entre os dedos dos pés”.
Muito gostava ele da porcaria.
Era certamente uma fixação. Às vezes isso, entranha-se.
Felizmente, não se pega!

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