sábado, janeiro 12, 2008

"Homem Grande"

Imagem daqui
Significa, na Guiné, ao mesmo tempo, homem grande na idade e no saber, de experiência feito.
O respeito que lhe é devido, passa por ter palavra a dizer em tudo que respeite à família e à comunidade em que se insere.
A sua morte é “chorada” durante dias, em que familiares e amigos, alguns vindos de longe, lhe prestam a última homenagem, comendo as vacas que criou e guardou para o evento.
É assim, nas comunidades com memória.
Hoje, a velhice já não desperta qualquer respeito nem sequer consideração, por muito que tenha contribuído para o bem-estar da família ou do grupo onde se insere.
Tirando alguns, poucos, que teimam em manter-se no “activo”, desenvolvendo trabalho válido, ainda que nem sempre apreciado, todos os outros se vêem atirados para a valeta por aqueles que mais amaram e pelos que usufruem o resultado do seu trabalho, do seu empenhamento, da sua dádiva, às vezes até de sangue.
As estátuas que se erguem, raramente exaltam o velho respeitável comum, que toda a sua vida foi dedicada a fazer o dia a dia dos outros, trabalhando a terra que dá o pão e o vinho, nas fábricas montando os carros que os transportam, no mar lutando contra ventos e marés, em casa fazendo os filhos que lhes irão suceder.
Nos tempos que correm, os velhos são melhores mortos que vivos. Deixam de ser um peso para o Estado, através dos encargos sociais que representam em vida. Deixam de ser um fardo que os filhos carregam e, nalguns casos, podem tornar-se a galinha dos ovos de oiro, depois de fecharem os olhos.
Só lhes exaltamos as qualidades depois de desaparecidos, para que os outros nos revejam nelas, só o fazemos por necessidade de referências pessoais, como as que carregamos no nosso CV, para o mercado de trabalho.
Hoje, deu-me uma destas! Deve ser por em breve ingressar na designação guineense de “homem grande” e não ter vacas para alegrarem o meu “choro”.

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