Zé Cacilheiro
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"Dai-me a rota mais difícil e percorrê-la-ei", com os meus companheiros de bolina, preferencialmente!
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Não sou muito deste tipo de coisas por feitio ou por defeito. Entendo que as festas somos nós que as fazemos, quando temos vontade, quando existe oportunidade, quando o local e a companhia são apelativos. É tal e qual como fazer amor! Dizem os brasileiros que é quando pinta… Talvez não seja exactamente assim. Por que para eles fazer amor…parece que pinta sempre. Mas o que é facto é que, por via da profissão, tive oportunidade de passar o ano das formas mais variadas possíveis. O meu último réveillon na Guiné, foi passado a cerca de cinco quilómetros dum aquartelamento em construção para alojar uma unidade do Exército. Fazíamos a defesa afastada, enquanto outras forças especiais faziam nessa noite a defesa próxima. As informações que haviam chegado, uns dias antes, davam conta de grande ajuntamento de forças do PAIGC, comandadas pelo Nino, reforçadas com dois bi-grupos de armas pesadas e basucas, que pretenderiam juntar-se à festa de fim de ano das forças portuguesas estacionadas naquele local, preparando um fogo de artifício de se lhe tirar o chapéu. À distância a que nos encontrávamos do aquartelamento era possível ouvir a algazarra provocada pela festança brava que por ali corria, a que não faltava música ao vivo, provavelmente regada com uns decilitros a mais de reforço. Pelo menos em direcção não seria difícil apontar as armas e pela afinação das cantorias, a aproximação também permitiria assestar a pontaria em alcance. Estavam pois reunidas as condições ideais para o Nino abrilhantar a festa. O grupo que eu comandava nessa noite era de cerca de quarenta homens e ocupava a previsível zona de aproximação do inimigo, emboscando os trilhos. Eu ouvia o coração a bater nas têmporas, só de pensar o que seria ter um encontro com uma força de algumas centenas de homens bem treinados e profundos conhecedores do terreno, que certamente viriam carregados de material para atacar o aquartelamento e que, na impossibilidade de o fazer, descarregá-lo-iam em cima de nós, para garantirem liberdade de movimentos na retirada. Foram longas e penosas horas de espera, felizmente infrutíferas. O Nino terá resolvido ir fazer a festa para outra freguesia e ainda bem. Quando os macacos finalmente se juntaram à festa com a sua cantoria matinal e a passarada fez coro, demos por terminado o nosso réveillon e a folia de uma passagem de ano para não esquecer.
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Imagem tomada do site
O Médio Oriente e a Mesopotâmia, são palco de eventos trágicos e religiosos desde há milénios.
É estranho, que havendo lugares na Terra bem mais aprazíveis que os citados, quer pela paisagem envolvente, quer pelas civilizações estabelecidas e desenvolvidas, quer pela situação estratégica, ali se tenham travado e se mantenham dos mais duros combates político-religiosos da História da Humanidade.
As razões de hoje não terão sido as de outrora, mas não há dúvida de que algo especial faz com que as tensões espirituais e materiais se conflituem naqueles locais, tão perto e tão fora da Graça dos Deuses.
Deus uno com várias faces ou a face de vários Deuses? Na mesma área, na mesma cidade se congregam e se entrelaçam as vidas e os destinos de três diferentes religiões que no seu conjunto arregimentam a maioria de fiéis em todo o Mundo.
Por aquelas bandas se guerrearam egípsios, filisteus, hebraicos, assírios, babilónicos, persas arqueménidas, ptolomaicos, selêunidas e romanos. A região integrou o Império Bizantino. Esteve debaixo do jugo turco.
O mundo islâmico dividiu-se após guerra civil entre Sunitas e Xiitas e outras confissões menores dissidentes, que se espalharam do Iraque, à Síria, ao Irão, Afeganistão e dali ao restante espaço muçulmano.
Por ali se cruzaram durante os séculos XI a XIII as hostes cristãs nas suas cruzadas contra turcos e árabes, com o intuito de reconquistar a Terra Santa e Jerusalém.
Das sete cidades sagradas do Islão, cinco situam-se entre o Iraque e o Irão, com Jerusalém de permeio, cidade reclamada por Cristãos, Muçulmanos e Judeus como sua.
Em Maio de 1948 é criado o Estado de Israel, pela mão dos Ingleses.
Por ali se estendem quilómetros de “pipelines” que fazem andar as economias de todo o mundo, enchem os cofres das petrolíferas e doiram os palácios reais dos novos califas.
Judeus americanos e Judeus israelitas unidos na nova cruzada contra a hegemonia árabe da região, os primeiros a tomar conta dos “pipelines” e a pagar a segurança dos segundos.
Por aquelas bandas deu à luz Maomé!
Por ali nasceu Jesus!
Por ali já houve Natal!
Por acaso?
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A vantagem de contar estórias é podermos dar-lhes um pouco mais de colorido qb, sem no entanto lhe alterar o conteúdo ou, pelo menos, subvertê-lo.
Quando conto uma estória não deixo nunca de lembrar-me do meu saudoso amigo e companheiro de muitas guerras - o Eloi. Ele conseguia emprestar a tudo o que contava um sabor inigualável. Nunca o ouvi contar duas vezes a mesma história da mesma maneira. De cada vez que a contava, acrescentava-lhe mais sal, mais pimenta, mais gosto, divertia-se a contá-la e divertíamo-nos a ouvi-la.
Não é a mesma coisa passar uma qualquer estória para o papel ou contá-la directamente a uma audiência.
Ao escrever, podemos imaginá-la as vezes necessárias até lhe encontrarmos o paladar. É como confeccionar um acepipe com receita. Com técnica e algum jeito tudo se consegue.
Mas o dom de manter audiências agarradas e de todo envolvidas numa narrativa ao vivo e a cores, não é para simples aprendizes de feiticeiro nas artes de bem contar. Será como inventar um acepipe, que toda a gente degustará com prazer.
O que o Eloi se divertia a pôr na boca de outros aquilo que ele queria que eles dissessem ou tivessem dito.
- Oh Jr, conta lá aquela em que tu estiveste quase a bater num polícia, mas…
- Eh pá, não me lembro bem, quando é que isso foi?
- O Jr. ia uma vez…
Era espantoso! Eu não fazia a mínima ideia do que ele queria que me tivesse acontecido! Claro! A história não era minha, era dele!
A vida muitas vezes também nos conta estórias. Estou a lembrar-me duma que começava assim:
Era uma vez… um jovem Guarda Marinha…
Imagem tomada no site
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Mote: Em bom estilo da Igrejinha Umas décimas vou dedicar Nesta quadra que se avizinha A quem nos está a governar
Nas festas da Padroeira, Desta terra os devotos Expressam os seus votos Agradecem desta maneira Fazendo disso bandeira À sua Santa Madrinha Na rua fazem altar E diante do seu Pendão Mostram a sua devoção Em bom estilo da Igrejinha
Também assim eu quero Desta forma expressar Dizendo a versejar O quanto de vós espero O quanto eu sofro e tolero E como sou capaz de aturar Mas eu vos quero lembrar Tomai pois atenção Em jeito de sermão Umas décimas vou dedicar
Lá longe na Nazaré Jesus numa gruta nasceu No Céu uma luz se acendeu Par’aqueles que têm fé E para os pais Maria e José. Era bom, penso eu na minha, Da forma como isto caminha Que todos pudéssemos ver No Céu uma luz aparecer Nesta quadra que se avizinha
Mais importante que dizer Diz o povo e tem razão Sem rancor, mas com emoção, É certamente o fazer No Céu uma estrela aparecer Que nos ajude a reencontrar E a dignidade ganhar É um presente que merecemos E um repto que fazemos A quem nos está a governar
ZJ 12.12.2006
Rosa branca desmaiada…
Onde deixastes o cheiro?
A alquimia política transformou cravos vermelhos do nosso encanto, orgulho e esperança, em rosas vermelhas, que têm vindo a desbotar com o tempo.
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Por fim, o São Gabriel. Noites de paquete. Nunca antes havia experimentado tamanha calmaria em termos de balanço. Como é bom navegar. Aqui sim, aqui sinto-me marujo a corpo e tempo inteiros.
Primeiro o “PAB”, depois o “Contex”, por fim o “Open Gate”, expoente máximo da minha carreira operacional, com termos esquisitíssimos que aprendi num curso rápido para comandantes e imediatos analfabetos na linguagem das siglas.
Dividia-me entre o “Probe” e o “Nato Bravo”.
Num dos “Contex”, houve a participação de duas fragatas brasileiras, de que não recordo os nomes. Depois de termos acordado o reabastecimento através dos procedimentos adequados, com um dos navios, passámos a linha de distância, o cabo de suspensão e por fim lá enviámos o fálico “Probe”.
Chegado que foi este ao navio brasileiro, começou a notar-se uma faina tremenda que não percebíamos. Perguntadas várias vezes se o dito cujo já estava engatado, foi-nos respondido que estavam a desengatá-lo do cabo de envio para o levarem para o tanque.
Pela fonia foi dada ordem para cancelar de imediato a operação. De facto os navios brasileiros não podiam utilizar este equipamento nem estavam muito familiarizados com esta linguagem “NATO”.
Acabámos por fazer um reabastecimento de sólidos, simbolicamente representado por uma trança de pão, cuidadosamente fabricada pelo nosso padeiro, que era um artista. A trança tinha um feitio parecido com o “Probe” e duas bolas na ponta. Aguardámos ansiosamente a resposta que os nossos amigos e camaradas brasileiros costumam ter sempre pronta.
Azar o nosso. Ela não veio logo, queria eu dizer. Uns dias depois no Funchal, numa recepção a bordo de um dos navios da força, o imediato do referido navio brasileiro, abordou-me e pediu-me desculpa pelo atraso na resposta, mas tiveram que esperar por terra para comprar a prenda adequada, que consistia no último exemplar da PlayBoy. E concluiu o sacaninha "Cada um oferece o que mais gosta, não é mesmo?" Fez-me lembrar a figura imortal do “amigo da onça”.
Nesta comissão realizámos também uma viagem de instrução de cadetes, que iam distribuídos pelas fragatas Hermenegildo Capelo e Sacadura Cabral. Entrámos em Brest e em Portsmouth. Aqui, salvámos à terra e prestámos homenagem ao Almirante Nelson através de continência ao HMS Victory, à entrada do porto.
Fomos a Las Palmas, Palma de Maiorca, Ponta Delgada e Sines, onde participámos nas festividades do Dia da Marinha.
Toquei mais portos estrangeiros nesta curta passagem pelo S. Gabriel, do que em toda uma carreira naval, que incluiu sete navios e muitos milhares de horas de navegação.
Não corri os “sete mares” nem todos os portos toquei, mas cumpriu-se um desejo de adolescente, de conhecer novas terras e novas gentes, não para as conquistar e cristianizar, mas para as apreciar mais de perto.
Piratas nunca encontrei, pelo menos com perna de pau, olho de vidro e cara de mau. Mas não faltaram as imitações! Etiquetas: Memórias