quinta-feira, abril 08, 2010

Uma certa forma de olhar

Será que o olhar vê?
Julgo que não!
Olhar é como filmar. Só depois de fazer rewind se consegue ver o que o olhar reteve. Às vezes isto é quase em simultâneo, outras nem por isso.
Julgo que a maior parte da vida se passa sob o nosso olhar sem que nos quedemos um segundo a mirá-la, como talvez merecesse. Depois, já era...
Quem o consegue fazer, normalmente deixa esteira como um cometa ou uma chuva de estrelas. Estou a lembrar-me dos artistas plásticos e dos poetas que registam com um pincel, cinzel ou pena o que o seu olhar fixou e a sua alma viu.
Quando a vida se torna mais cara como o pão nas padarias ou a cotação do petróleo brent, o olhar torna-se mais atento, mais rápido, realçando cada imagem, cada gesto, cada emoção, cada halo de vida.
Porém, a sofreguidão de tudo olhar e de tudo querer ver também cega, como uma luz branca que não deixa ver a cor nem a forma. O equilíbrio perde-se e alma enche-se de manchas sem sentido nem razão.
O Sol brilha todos os dias, mas só para quem o puder olhar e ver.

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