Desígnios
Poderá alguém jurar que os seus desígnios de vida, se é que os teve, se cumpriram ainda que parcialmente?
Seremos nós hoje, o que imaginámos há muitos anos atrás?
Ao olharmos o espelho reconhecemos nele o jovem idealista que já teremos sido ou, antes, vemos a imagem dum estranho encarquilhado pelos anos e pelos desaires duma vida gasta sem sentido e sem deixar rasto, mesmo que peçonhento?
“Retroespectivando-me”, diria que, de certa forma, sou hoje a sombra muito semelhante da que alguma vez imaginei ser.
Quando falo em desígnios não falo em sonhos, claro. Esses jamais se cumpririam e é bom que assim tenha sido e continue a ser. Os sonhos levam-nos a saltar as regras, as conveniências, as expectativas, o que é saudável e faz andar o mundo. Não nos levam normalmente a qualquer lado, mas levam-nos a todos os lados.
Os desígnios, para já não falar dos de Deus, são objectivos concretos que nos propusémos alcançar em tempo útil.
Os meus propósitos quase se cumpriram, com pequenos desvios de rota impostos pelos escolhos que sempre vamos encontrando e que galgamos com maior ou menor dificuldade ou não ultrapassamos de todo.
Uma das minhas intenções mais remotas consistia em sair rapidamente da terra onde nasci e me estruturei emocionalmente. Um intento épico, o saltar para o desconhecido um pouco na senda das descobertas marítimas e daí, porventura, a escolha do meio de o fazer – a Marinha.
Apesar da época conturbada que se viveu nessa altura, acabei por reconhecer o mérito do sacrifício como o preço da vida, bem expresso numa máxima dos Fusos – o suor gasto no treino é sangue poupado na luta.
E as lutas foram muitas para as quais nem sempre me senti treinado e especialmente apto. Mas valeram a pena a maioria delas.
O lutar contra o que quer que fosse que me parecesse injusto, fez-me sempre sentir vivo. Não foi nunca um sonho meu, mas terá sido muito provavelmente um dos meus desígnios.
A vida é luta, com batalhas nem sempre ganhas, mas com vitórias sempre festejadas. Nunca recolhi despojos dessas pelejas, nunca almejei lucros nem ribalta, sempre me senti compensado pelas noites bem dormidas.
Não fui nunca destemido, preocupando-me sempre a segurança de quantos de mim dependiam, mas nunca virei a cara a confrontos, quando necessários ou inevitáveis. Sempre entendi que para os militares a ameaça tem que ser a arma mais eficaz de quantas dispuser.
Nem sempre é a falar que a gente se entende, mas terá sempre que ser esgotada essa alternativa.
Com passagens por África e pelo Oriente marcantes, cumpriram-se alguns dos meus desígnios de descoberta para que apontava na minha juventude. Com uma passagem, ainda que breve, pelo Brasil só me escapou mesmo a América do Norte como destino desejado.
Vi o dealbar dum novo país, sempre adiado infelizmente, mas nem por isso perdi a esperança de que algum dia se descubra e desponte para o maior feito porventura da sua longa História - tornar a vida dos seus filhos um projecto aliciante de futuro.
Espero que as minhas filhas e os netos possam alguma vez retirar da vida a alegria de a viver em harmonia e equilíbrio como me tem sido possível a mim fazê-lo.
E, como destino último provável voltei às origens, cumprindo igualmente outro desígnio mais tarde urdido, consentâneo com uma vida mais calma, mais perto daquilo que me faz sentir vivo e que um dia me roerá os ossos – a terra.
Seremos nós hoje, o que imaginámos há muitos anos atrás?
Ao olharmos o espelho reconhecemos nele o jovem idealista que já teremos sido ou, antes, vemos a imagem dum estranho encarquilhado pelos anos e pelos desaires duma vida gasta sem sentido e sem deixar rasto, mesmo que peçonhento?
“Retroespectivando-me”, diria que, de certa forma, sou hoje a sombra muito semelhante da que alguma vez imaginei ser.
Quando falo em desígnios não falo em sonhos, claro. Esses jamais se cumpririam e é bom que assim tenha sido e continue a ser. Os sonhos levam-nos a saltar as regras, as conveniências, as expectativas, o que é saudável e faz andar o mundo. Não nos levam normalmente a qualquer lado, mas levam-nos a todos os lados.
Os desígnios, para já não falar dos de Deus, são objectivos concretos que nos propusémos alcançar em tempo útil.
Os meus propósitos quase se cumpriram, com pequenos desvios de rota impostos pelos escolhos que sempre vamos encontrando e que galgamos com maior ou menor dificuldade ou não ultrapassamos de todo.
Uma das minhas intenções mais remotas consistia em sair rapidamente da terra onde nasci e me estruturei emocionalmente. Um intento épico, o saltar para o desconhecido um pouco na senda das descobertas marítimas e daí, porventura, a escolha do meio de o fazer – a Marinha.
Apesar da época conturbada que se viveu nessa altura, acabei por reconhecer o mérito do sacrifício como o preço da vida, bem expresso numa máxima dos Fusos – o suor gasto no treino é sangue poupado na luta.
E as lutas foram muitas para as quais nem sempre me senti treinado e especialmente apto. Mas valeram a pena a maioria delas.
O lutar contra o que quer que fosse que me parecesse injusto, fez-me sempre sentir vivo. Não foi nunca um sonho meu, mas terá sido muito provavelmente um dos meus desígnios.
A vida é luta, com batalhas nem sempre ganhas, mas com vitórias sempre festejadas. Nunca recolhi despojos dessas pelejas, nunca almejei lucros nem ribalta, sempre me senti compensado pelas noites bem dormidas.
Não fui nunca destemido, preocupando-me sempre a segurança de quantos de mim dependiam, mas nunca virei a cara a confrontos, quando necessários ou inevitáveis. Sempre entendi que para os militares a ameaça tem que ser a arma mais eficaz de quantas dispuser.
Nem sempre é a falar que a gente se entende, mas terá sempre que ser esgotada essa alternativa.
Com passagens por África e pelo Oriente marcantes, cumpriram-se alguns dos meus desígnios de descoberta para que apontava na minha juventude. Com uma passagem, ainda que breve, pelo Brasil só me escapou mesmo a América do Norte como destino desejado.
Vi o dealbar dum novo país, sempre adiado infelizmente, mas nem por isso perdi a esperança de que algum dia se descubra e desponte para o maior feito porventura da sua longa História - tornar a vida dos seus filhos um projecto aliciante de futuro.
Espero que as minhas filhas e os netos possam alguma vez retirar da vida a alegria de a viver em harmonia e equilíbrio como me tem sido possível a mim fazê-lo.
E, como destino último provável voltei às origens, cumprindo igualmente outro desígnio mais tarde urdido, consentâneo com uma vida mais calma, mais perto daquilo que me faz sentir vivo e que um dia me roerá os ossos – a terra.
Etiquetas: Retrato
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