segunda-feira, março 02, 2009

Dobram por ti os sinos, pobre Guiné!

Pobre Guiné, que não tem remédio nem saída.
Não foi bonito o que aconteceu, nem será bonito, provavelmente, o que se segue.
Numa casa onde não há pão (leia-se arroz ou milho), todos gritam e, possivelmente, todos terão razão. Razão de queixa, sobretudo. De queixa da miséria a que são compelidos por herança mas também, e acima de tudo, por nascença.
A Guiné tem uma área semelhante à dos Alentejos. Grande parte, afoga-se na maré-cheia, para se espreguiçar ao sol tropical na maré-vazia.
Os terrenos alagadiços, são pantanais salgadiços, sem grande aproveitamento agrícola. Num ou noutro caso poderão ser utilizados para arrozais, embora de baixo rendimento. Nas estepes e savanas a mancarra e o milho poderão constituir a restante capacidade produtiva daquela terra. Os palmares são poucos e fracos, mas ainda assim permitem a recolha de algum óleo e de cibes (madeira de palmeira cibé rachada, extremamente resistente à humidade e bicheza, usada em estacarias e na construção). As fronteiras negociadas pelas potências coloniais separaram famílias e abriram feridas difíceis de sarar.
A Guiné encostava-se ao Casamance, o que lhe valeria a possibilidade de exploração de madeiras exóticas e o aproveitamento duma imensa bacia hidrográfica.
Defraudada dele, resta-lhe a memória do que poderia ter sido.
Neste pequeno território, coexistem cerca de quarenta etnias, com culturas, idiomas e religiões diversas, num mosaico complicado de gerir e de obedecer a uma ordem social que lhes é avessa.
A unidade foi conseguida, de certa forma, na luta armada contra o colonizador, mas esvaiu-se de imediato logo que um dos companheiros de luta assumiu o poder, ganha que havia sido a independência política.
Retornaram de imediato aos valores tradicionais e culturais relegando para segundo plano a conquista da independência económica.
Mesmo a língua escolhida para veículo de comunicação comum, o Português, não serviu os seus intentos, na totalidade, pela falta de penetração nas zonas rurais.
Resumindo, o Nino, que hoje se findou assassinado às mãos dos seus compatriotas e companheiros de outras lutas, também ele não conseguiu interpretar o sentir de todos eles, empenhado que esteve sempre em manter-se no poder, que entendia pertencer-lhe por direito próprio, pelo muito que contribuíra com a sua luta no mato para o alcançar.
Esqueceu-se o Nino, guerrilheiro experiente e duro, que não possuía, nem sequer conhecia as armas e as artes para travar e ganhar esta guerra.

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1 Comments:

Blogger Luís Alves de Fraga said...

A morte abrupta e provocada de Nino Vieira vem pôr fim a uma época na Guiné-Bissau.
Não vai parar a corrupção, mas os corruptos vão ser outros.
Uma vez mais, prova-se que não há donos do Poder.
E será que vai continuar a haver Guiné-Bissau no futuro distante?

3/3/09 10:02  

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