sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Enterro do Nabo


As tradições carnavalescas variam de país para país e, por vezes, de local para local dentro do mesmo país.
O País do Carnaval, o Brasil, celebra esta efeméride de forma diferenciada, entre o esplendor turístico-emblemático das escolas de samba do Rio e o fulgor genuíno do trio eléctrico, dos blocos e cordões carnavalescos, carregados de cultura centenária e negritude, de Salvador.
No Alentejo, na região de Évora, as brincas carnavalescas rurais assumindo a forma de teatro popular de rua ou as antigas trupes, animavam com a sua música basista produzida por instrumentos artesanais como as roncas, castanholas, gaitas-de-beiços, caixas e pandeiretas, incorporando algumas vezes uma concertina ou um saxofone, dando vida à festa.
Mais tarde e já com fins turístico promocionais apareceram alguns cortejos ou corsos carnavalescos, utilizando veículos enfeitados e alegóricos, com críticas políticas ou alusões a escândalos públicos conhecidos.
Em Ponta Delgada comemora-se ainda a terça-feira de Carnaval com a famosa batalha de limas, que costuma deixar alguns olhos negros pelo caminho e a avenida marginal repleta de cera.
Alguns destes cortejos foram-se perdendo entre o desinteresse e as falências.
O enterro do carnaval é comemorado, também de forma diferente, na quarta-feira de cinzas.
Nesta área geográfica, a nível de aldeia, é-lhe dado o nome de “enterro do nabo”, representado falicamente por um rábano de dimensões exageradamente grandes, “implantado” na braguilha do “defunto carnaval”, à imagem do Homem, esparramado numa carreta funerária.
O cortejo fúnebre, encabeçado pelo “bispo”, ronda a aldeia num percurso de despedida da folia, com paragem obrigatória onde existam altares ou oráculos, devidamente assinalados, com “oferendas divinais”. Aí será rezada uma missa de corpo presente, tantas vezes quantos os altares.
Não seria a primeira vez que os promotores e actores deste cortejo, se perdessem do propósito de enterrar o dito nabo, em seara alheia, quedando-se pelo meio do caminho entre encalhes e bebedeiras.
Este ano, caso insólito nesta aldeia, o enterro do nabo, ou seja do Carnaval, é realizado na data em que seria suposto começar – Domingo Gordo, talvez por causa das vacas magras ou pela simples razão de que não existem grandes motivos para brincar ao carnaval.
Carnaval, que aparece pela primeira vez desde o 25 de Abril de 1974, pintado com a tinta negra de censura.

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