quarta-feira, dezembro 03, 2008

O Nome das Coisas

Nas minhas novas lides de burguês proletarizado por necessidade de ir ocupando e rentabilizando o meu tempo livre de reformado, deparei-me com a necessidade de usar uma chave de caixa ou de tubo – uns dizem duma maneira, outros respondem noutra.
Necessitava de separar a coronha da minha espingarda do cano para lhe trocar duas anilhas que permitem dar inclinação apropriada à arma, por ocasião do apontar a mesma.
Coisas de engenheiros e de ergonomistas para a gente continuar a falhar os tiros, atirando as culpas para a espingarda.
Ao tentar usar a chave 12/13, verifiquei que era muito curta, não permitindo a sua utilização, dentro da coronha, sem uma extensão.
Falei nisso aos meus amigos entendidos e disseram-me que havia uma geringonça própria à venda nas casas da especialidade.
Na primeira oportunidade, entrei numa loja, minha conhecida dos meus tempos de menino e moço, agora alterada profundamente e transformada num espaço próprio dos tempos que correm, com exposição de ferramentas e equipamentos, em que os pregos e os parafusos são apresentados em grandes tulhas transparentes, mais para enfeitar do que para serem objectos de venda.
Lá expliquei a um empregado novito o que me levava ali e o moço perguntou-me se queria um encavador de 5/8 ou 7/8 de polegada?
Fiquei apreensivo, porque a conversa não me estava a agradar muito ou eu não estava de todo a perceber o que o eficaz vendedor me propunha! Encavador de não sei quantos oitavos de polegada?
Em vista da minha indecisão o rapaz dirigiu-se a uma estante e retirou a tão desejada extensão por mim pretendida, que dá pelo nome de encavador, e lá me explicou que não existe um tamanho único. Que era preciso saber qual o tipo de chave para se poder escolher o dito cujo a condizer e apropriado.
Fez-me lembrar uma estória passada a bordo duma LFG na Guiné comandada por um camarada já falecido.
A lancha tinha a bordo um contratado civil dos Serviços da Marinha naquele território, para servir as refeições aos oficiais do navio e tratar da roupa. O seu nome era João, mas toda a gente o tratava por Joãozinho, porque era pequeno e tinha uma falinha fininha, pelo menos quando falava com o Comandante.
Um dia em que fui a bordo do navio, em Ganturé, o Comandante chamou o Joãozinho e ordenou-lhe que me dissesse qual era a sua categoria profissional, ao que o Joãozinho, mostrando de imediato o seu cartão passado pela entidade patronal, a Marinha, disse com a sua voz fininha: - “Alisador de 1ª”.
Não tenho cura! Isto de nomes não é nem nunca foi de todo a minha especialidade!

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