segunda-feira, dezembro 15, 2008

Esquerdo, direito, um, dois...


Com o rufar dos tambores, há que acertar o passo.
Nestas coisas de passo certo, existem sempre os que não atinam.
Lembro-me do instrutor de infantaria perder a cabeça com o Quintino, porque não conseguia nunca manter o passo certo com o dos camaradas ou balançar os braços alternadamente com o movimento das pernas. Dislexia diziam uns, falta de coordenação motora outros, indisciplina interior digo eu.
O que quer que seja, nasce connosco e muito dificilmente conseguimos ultrapassar a não ser à custa dum esforço enorme que nem todos estão dispostos a despender.
Por outro lado, a dislexia política é bastante frequente, mas não apresenta sempre a mesma sintomatologia. Há quem não saiba muito bem qual a sua mão direita e quem não distinga o braço esquerdo do extremo esquerdo.
Mas existem aqueles que, como o Quintino, não conseguem alinhar só por alinhar, manter uma cadência ordenada por tambor ou por voz autoritária de comando.
Quantas vezes o Quintino virava à esquerda quando a voz de direita volver se fazia ecoar?!
Também é verdade que às vezes acertava. Mas era preciso um esforço enorme e uma atenção que nem sempre estava disposto a dedicar ao acto.
Voltando à política, não me parece que a divisória e a distinção devam ser feitas pelo modo como se alinham no hemiciclo da Assembleia, mas pela maneira como defendem os interesses e os valores dos que os elegem e de quem devem ser representantes.
Assim, aqueles que mentem com todos os dentes que têm na boca, que impõem o rufar dos tambores da disciplina partidária, esquecendo compromissos assumidos, que fazem do poder uma promiscuidade de interesses económicos e políticos, esses não têm nome nem se situam à direita ou à esquerda, mas por baixo da ética, para não falar já dos que transpõem o patamar da legalidade.
Do meu ponto de vista, criar um novo partido só para ganhar o poder ou para roubar o poder a quem o detém, é quase tão mau como o que hoje temos.
Entendo que a luta deve ser levada a cabo dentro dos partidos existentes, tentando expurgar deles o que não presta e desacredita a classe política e põe seriamente em risco a democracia parlamentar, abrindo portas a aventuras desesperadas de gente cada vez mais desesperada.
A crise em Portugal não é passageira, porque não é conjuntural. A crise em Portugal é estrutural porque resulta incapacidade para nos organizarmos mental e politicamente em termos honestos, traçando linhas claras de orientação e reformulação de processos, de definição explícita das metas a atingir e de tudo fazer para que as mesmas sejam atingidas em tempo oportuno e sem desvios significativos.
Enquanto a Política for considerada como no tempo de Bordalo Pinheiro, não existem esquerdas nem direitas que lhe valham.

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1 Comments:

Blogger platero said...

almocei ontem em Setúbal com um funcionário de Tipografia propriedade de descendente de Bordalo Pinheiro.
Só para registar coincidência

sabe como eu gostaria de escrever?
entre milhares - como (tente, recomendo):
"ouriquense"

abraço. Está um frio maluco

16/12/08 16:07  

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