sábado, novembro 29, 2008

O Valor das Coisas

Claro que já sou velho! Nem podia deixar de não ser, uma vez que o tempo nos vai enfeitando com patine, pondo sombras nos olhos, algodão nos ouvidos e música no coração.
Mas esse facto não implica que tenhamos de todo perdido a memória das coisas, a noção do tempo ou dos tempos e sobretudo dos valores por que nos regemos.
Nem sequer sou saudosista, entendendo que a vida corre como um rio para a foz e não ao contrário.
Como marinheiro que ainda me lembro de ter sido, sei que os “ventos de contra”, impõem pano latino para que possamos bolinar.
Depois desta introdução, que não teve outro fim que não fosse tentar demonstrar a sanidade mental de que ainda me julgo portador, vou direitinho ao meu “guarda-factos” e sacar, dum cabide carcomido pelo bicho-carpinteiro, um dos ditos, que merece registo especial.
Corria o final dos anos sessenta e tinha acabado de ser promovido a primeiro-tenente. Julguei oportuno adquirir um carro, pois que as perspectivas de nova comissão em África, abriam-me a possibilidade de suportar os encargos do empréstimo que tinha que fazer.
Optei pelo mais baratinho do mercado – um MINI – que custava a fortuna de 42.000$00, se pago a pronto.
Um dos bancos comerciais da nossa praça rejeitou o meu pedido de empréstimo individual de 50 contos, que apregoavam na altura como acessível a qualquer cidadão. Este facto levou-me a dirigir ao CEMA uma carta onde dava conta do crédito que um oficial da Armada tinha no mercado de valores de então.
Fui aconselhado a dirigir-me ao banco com quem a Marinha trabalhava e lá me foi concedido o dinheiro, com o qual fui a correr comprar o meu carro novo.
Bom, esta historieta só serve para introduzir o valor relativo das coisas e do próprio dinheiro com que diariamente tentamos fazer face às nossas necessidades e compromissos.
Hoje, fui ao Multi-Banco e em dois levantamentos, necessários para pagamento de despesas rotineiras, levantei nada mais, nada menos, do que dois MINIS dos anos 60.
A partir deste momento passei a registar as minhas despesas em MINIS, constatando também que o crédito que merecemos no mercado de valores actual não é muito diferente do de então.

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2 Comments:

Blogger platero said...

muito boa prosa.
permita-me observação mínima:

fim de 2º.parágrafo
....dos valores por que nos regemos.

sempre que possa substituir por:
pelo qual, pelos quais, pelas quais...
o por que é separado.

aceite bom abraço

2/12/08 19:01  
Blogger JR said...

Olá!
Há muito que não tinha o prazer da sua visita e do seu comentário.
Agradeço o reparo, que tem toda a razão.
Abraço

2/12/08 21:53  

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