segunda-feira, novembro 24, 2008

As Crises

As situações de crise fazem aparecer sempre os espertalhões que dela se aproveitam, explorando, a seu favor, as fraquezas que as mesmas geram.
A dependência económica da Europa aos Estados Unidos começou no pós guerra com o designado Plano Marshall, que visava a reconstrução da Europa destruída pela guerra, através de apoios financeiros e doações dos Estados Unidos aos países aderentes, desde que deixassem caminho livre às empresas americanas, iniciando-se dessa forma a internacionalização da sua economia com a criação das multinacionais.
Esse cordão umbilical manteve-se praticamente até ao aparecimento da CEE que, a pouco e pouco foi empurrando os E.U. para fora da sua área de influência, concorrendo com eles nos seus mercados tradicionais.
É também em situações de crise que é usual aparecerem os salvadores da pátria, que rapidamente se transformam em senhores dos seus destinos.
Não precisamos de ir muito longe na nossa História recente para encontrarmos o mais proeminente, que deteve o poder por mais de quarenta anos, só tombado por uma cadeira desleal, poder esse que tomou e manteve para ultrapassar a crise em que o País havia caído depois de lutas incessantes e insanas pelo poder durante a primeira república.
No plano económico, conta-se que um eminente empresário, já falecido há alguns anos, resolveu sê-lo depois duma lei que impunha a todos os trabalhadores a necessidade de ter o diploma da instrução primária para ter direito à carteira profissional e, assim, poder ter acesso ao mercado de trabalho com maior facilidade e melhores proventos.
Como tal não era exigido aos empresários, este nosso amigo de visão estratégica brilhante, resolveu dar o salto qualitativo de operário fabril para empresário no mesmo ramo, tendo certamente tido necessidade de tirar um curso intensivo para contar os milhões que a sua mudança de estatuto lhe granjeou.
Outra estória de sucesso em altura de crise, foi narrada por um camarada que, nas horas vagas, tinha uns negócios com as ex-colónias portuguesas, especialmente com Angola.
Aquando da primeira tentativa de eleições naquele país, a que se seguiu uma carnificina medonha, especialmente em Luanda, em que foram mortos muitos quadros da Unita e que terminou com a retoma da guerra civil em modos muito mais violentos, indaguei esse camarada como corriam os seus negócios, pensando que estariam comprometidos com o conflito. Respondeu-me que nunca haviam estado melhor, já que os produtos que de lá importava tinham passado a ser pagos com caixões que para lá remetia “na volta do correio”.
Para todas as crises existem sempre saídas airosas, sobretudo para quem lida com elas de mente aberta e olhar atento, vendo-as como uma janela de oportunidades que se quer escancarada e estando pronto a dar o salto para as agarrar quando se lhe deparam, mesmo que esse salto signifique passar os grilhões dos nossos pés para os pés do parceiro do lado.
Por enquanto, mantenho a minha janela apenas entreaberta.

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