quarta-feira, maio 07, 2008

O País dos Suspensórios


Dizia um professor dos meus primórdios que as palavras são os suspensórios das ideias. Não havendo palavras adequadas, as ideias ficam coxas, marrecas, quebradas.
Pior do que isso, porém, é não haver ideias, pois não há palavras que nos valham.
Neste momento, julgo que os políticos já gastaram os arranjos possíveis de palavras para sustentar as mesmas ideias fedorentas com que tentam convencer-nos da necessidade destes sacrifícios a que nos sujeitam, há que tempos.
O matraquear permanente sobre o tema a propósito de tudo e de nada, especialmente nada, é confrangedor.
Não me lembro deste país sem estar em crise e de não nos serem pedidos sacrifícios. Primeiro por causa da guerra que acabara, depois por causa da guerra que começara, a seguir por causa da herança deixada, depois da globalidade e dependência da nossa economia, por causa da crise energética e crise do dólar. Por…eu sei lá que artimanhas, tão gastas quanto as palavras que as sustentam.
Se algum dia houver quem tenha a ideia inovadora de nos fazer crer que já ultrapassámos as dificuldades e somos iguais aos outros e a nós mesmos, penso que estaremos muito perto da demência colectiva e do nosso fim como nação.
O nosso genoma não consente tamanha manipulação. Nascemos para não ter mais ideias e apenas palavrear sobre as poucas que nos foram transmitidas geneticamente.
Um país e um povo de suspensórios!

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