quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Ventos de Amura


O vento pela amura não se sabe nunca para onde nos leva. Vamos para donde ele sopra. À procura da sua origem, da sua razão de ser. Até que as forças nos faltem ou que o vento se amaine.
Nesta minha orçada de há meia dúzia de anos, tenho navegado por outras águas, eventualmente menos turvas, mas não menos turbulentas.
Quem navega tem sempre como destino a terra. Terra firme. Sem balanço. Com cheiro a lençóis lavados e saudades que esperam.
O encalhe aparece muitas vezes como um acidente de percurso, quando ele próprio se não almeje como tal.
Nas voltas da maré e com o pé sempre molhado, os olhos no horizonte, parti em busca de coisa nenhuma ou de tudo, não sei bem.
Encontrar-me na minha meninice, nas tresloucadas descobertas juvenis, nas insensatas aventuras adolescentes, faz-me ir descortinando que adulto teria querido eu ser. Amante da terra que me viu nascer ou namorado das terras com que sonhava? Tendo optado pela última, não me esqueci da primeira.
Encontro-a como eu, sofrida e envelhecida de morte. À minha espera! À espera que lhe dê a ternura que outros lhe roubaram. Enternecida agora pelos carinhos com que a envolvo, devolvidas que foram as branduras nocturnas, os orvalhos matinais, os despertares harmoniosos dos apaixonados.
O Sol já não aquece tanto, mas o frio também não é o mesmo. Só os rouxinóis continuam a enfeitar-nos as noites com o seu cantar.

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