sábado, fevereiro 02, 2008

A Teia

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Embora corra actualmente uma versão diferente daquela porque Judas foi “tristemente” celebrizado, o que é facto é que para os católicos terá começado ali aquilo que hoje pode ser entendido como corrupção.
A venda de Jesus por trinta dinheiros aos seus inimigos, não é mais do que a receita que ainda hoje colhe para se atingir determinados fins.
Muitas vezes o vil metal é substituído por honrarias, por acordos de interesses mútuos, mas sempre por valores que o alvo a corromper aspira, deseja, ambiciona. É ao fim e ao cabo a sábia exploração das fraquezas humanas, como pagamento de contrapartidas financeiras, económicas, políticas ou amorosas.
Não admira, portanto, que quem se encontre em posição de poder decidir sobre aspectos importantes da vida das pessoas se veja assediado, tentado, obrigado a ceder nos seus princípios, nas suas obrigações, nos seus credos, nas suas responsabilidades, para responder a essas solicitações, provavelmente irrecusáveis nalguns casos.
Obviamente que os sistemas organizacionais da vida em sociedade ajudam muitas vezes. Um sistema burocratizado promove esse tipo de atitude, com vista a encurtar caminhos. Um sistema de acesso fácil aos serviços e ao crédito, não os promove, mas dificilmente os detecta, quando ocorrem.
Corriam os finais dos anos setenta, em Hong Kong, capital universal do liberalismo económico, quando foi designado para exercer o cargo de Alta Autoridade Contra a Corrupção, um General do Exército Britânico, soldado de muitas guerras e personalidade de verticalidade assegurada.
Mal foi conhecida a sua nomeação para o cargo recém-criado, começaram as deserções nas hostes públicas e empresas.
De repente, dezenas de funcionários da administração central e local, desapareceram sem deixar outro rasto que não fossem suspeitas, posteriormente confirmadas, de negociatas mais ou menos obscuras e complicadas.
Nas colónias, a justiça britânica impunha, a quem fosse acusado, a obrigação de fazer prova da sua inocência.
A TV tinha spots publicitários apelando à denúncia de factos que pudessem significar recebimento de dinheiros ou favores de qualquer espécie em troca de serviços prestados ou negócios ilícitos.
Durante alguns meses Hong Kong dever-se-á ter tornado num território incorruptível. As polícias apresentaram mais serviço do que na anterior década.
Foi realizada uma queima de heroína apreendida que teve uma protecção policial nunca vista, já que as quantidades eram assustadoramente elevadas.
Ainda não tinha decorrido um ano sobre a nomeação da AACC, quando o general foi acusado de receber favores em troca de arquivamento de processos, havendo sido mandado regressar a casa.
A partir daí, nunca mais este cargo foi preenchido.
Tudo isto para dizer que existe sempre um preço capaz de comprar as vontades, seja de quem for. Ninguém se consegue colocar à margem deste processo. A única coisa que pode acontecer, e muitas vezes acontece, é não haver ninguém capaz de pagar o preço necessário ou encontrar a forma de pagamento adequada.
Cristo correu com os vendilhões do templo, mas parece ter sucumbido aos encantos de Maria Madalena.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

se calhar até já conhece a minha quadra sobre o tema:

por trinta dinheiros apenas
vendeu Judas o Messias
Por quantias mais pequenas
vendemo-nos todos os dias

e parece então que é assim mesmo.
Abraço

2/2/08 18:44  

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