sábado, fevereiro 23, 2008

O Admirável Mundo Velho

Foto daqui
A produção intensiva de animais para abate ou leite e a agricultura extensiva, são dois pilares da moderna forma de exploração dos recursos agro-pecuários.
Assentes sobre a rentabilidade dos meios de produção, não se contentam com as capacidades naturais dos animais, das plantas e da terra e impõem-lhes ritmos e ciclos de produção, contra natura.
Na produção animal, fazem-se cruzamentos entre raças no sentido de produzir mais leite, mais carne ou mais ovos, conforme o caso, em menos tempo e com menores gastos com a alimentação.
A crueldade pode chegar ao ponto de se fazerem, em animais de produção leiteira, implantes de embriões de animais para produção de carne, em número superior ao normal, tirando partido das duas componentes de produção.
Em relação às plantas, além de se exaurirem os solos dos seus elementos estruturais orgânicos e minerais, pela continuada exploração do mesmo tipo de culturas nos mesmos locais, obrigando a fertilizações cada vez mais exigentes e tratamentos fitossanitários mais complicados, são-lhes impostos muitas vezes ciclos vegetativos diferentes dos naturais, o que agrava ainda mais os parâmetros antes considerados.
A produção animal é acompanhada por tecnologia computorizada de identificação e controlo dos animais, na alimentação e variação de peso, controlo sanitário, produção leiteira com análise do leite incorporada ou produção de ovos e sua calibragem. Desde que nascem até que é atingido o seu desinteresse produtivo, todo o historial dos animais fica registado, para que conste.
Do mesmo modo, a produção agrícola extensiva é assistida por tecnologias variadas que vão da nivelamento dos solos para a lavra e plantio através de laser, ao equipamento para lavra, sementeira ou plantação, ceifa ou apanha, debulha e ensilagem, e aos doseadores de fertilizantes e pesticidas, nestes incluídos os fungicidas, insecticidas e os herbicidas, distribuídos através dos sistemas de rega controlada, por pulverizadores de alta pressão ou pulverização aérea, conforme o tipo de culturas instaladas.
As espécies semeadas ou plantadas ainda podem ter sido seleccionadas ou manipuladas geneticamente com vista a alterar algumas das suas características vegetativas, tornando-as mais produtivas ou resistentes a determinadas doenças ou pragas.
Todas estas tecnologias envolvidas vão encarecendo a produção, esgotando os recursos naturais por lixiviação dos solos, poluindo os lençóis freáticos por infiltração das águas pluviais e criando à volta daquilo que constitui a nossa alimentação, um mundo-de-faz-de-conta, no qual já não distinguimos o que é bom e natural daquilo que é “fabricado e corado artificialmente”.
Enquanto os países industrializados e detentores de tecnologias evoluídas produzem em quantidades que ultrapassam largamente as suas necessidades alimentares, exportando os excedentes, países há que não conseguem produzir as quantidades mínimas para sustentação ou mesmo sobrevivência.
Apesar destas tecnologias diabólicas, ainda se morre à fome neste globo. Apesar dos excedentes alimentares que atenuariam certamente esse sortilégio, continuam a deitar-se fora por expirado o prazo de consumo ou simplesmente para não baixar o preço no consumidor, quantidades enormes de bens alimentares.
Mas, atenção! Não se morre à fome nos países industrializados, mas vai morrer-se por falta de recursos naturais como a água potável, por ingestão de carne proveniente de animais alterados ou infectados com doenças transmissíveis ao homem, por vegetais repletos de resíduos organofosfatados e pesticidas ou simplesmente através do ar que deixará de ser respirável por força dos gases que se lhe vão incorporando minuto a minuto.
Estamos a construir um mundo que não é redondo e a fazer do planeta azul uma coisa cinzenta e feia!

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