domingo, outubro 14, 2007

O "Papel" do Velho

Imagem daqui

Os mais novos e os mais velhos estão igualmente vulneráveis em aspectos ligados à saúde, à segurança, à alimentação, à mobilidade, entre outros.
As razões não são evidentemente as mesmas, mas os efeitos nefastos equivalem-se. A saúde, nos mais novos, é posta em risco pela incúria, pelos maus tratos, pela violência sexual que sobre eles se abate muitas vezes. Nos velhos, é a idade a principal causadora das doenças, o que não significa que sejam imunes a maus tratos, abandono ou sevícias políticas e até religiosas.
A segurança é talvez o aspecto em que mais se notam as fragilidades, por ignorância dos riscos nos mais novos, por doenças incapacitantes da memória e do raciocínio nos mais velhos, por inaptidão da sociedade em proteger todos da malvadez dos homens, das políticas avessas a garantir emprego, habitação, educação, em suma, incapaz de fazer regredir e acabar com a exclusão social. A lei da selva trazida para o meio urbano. Um salve-se quem puder, em que os mais fortes deglutem os mais fracos, aí aparecendo as crianças e os velhos no topo da pirâmide, alvos fáceis porque indefesos.
A alimentação, se determina nos mais novos as capacidades que lhes queremos garantir ou recusar à partida, significa nos mais velhos a qualidade do pouco tempo que lhes resta, depois duma vida de trabalho. Para uns e outros as carências de ordem alimentar afectarão necessariamente toda a sociedade em que se inserem, porque nela se reflectirão em encargos sociais e de saúde.
Por fim, a mobilidade ou a falta dela condiciona ambos, novos e velhos, na busca de soluções para as suas necessidades. Podem ter o comer debaixo do nariz, que não lhe chegarão se não se puderem movimentar.
Não terei esgotado todas as fragilidades que afectam idosos e crianças, mas tentei equacionar aquelas que mais os afectam directamente, pelas consequências imediatas.
Parece impossível que no Portugal democrático, dito europeu, se mantenham condições que nada têm que ver com o que nos chega de outros países com populações semelhantes em número, com recursos em tudo paralelos e que põem nestes grupos etários o melhor que podem para garantir o futuro e olhar com orgulho para quem ajudou a construir o presente.
Retirar aos velhos as poucas regalias que ganharam o direito de ter, depois do tempo e do trabalho lhes ter roubado a vida, só por sadismo político inqualificável.
Os velhos deixaram de ser trapos para passarem a ser papel higiénico. Contrariamente às crianças podem, eleitoralmente, transformar-se em guardanapos para limpar a boca de quem assim os maltrata agora.

Etiquetas: