quarta-feira, outubro 17, 2007

No Tempo do Pirolito

Prefiro lembrar desta forma a época de que vou falar, porque de qualquer outra não guardo tão gratas recordações, em termos de vivência e civilidade, na terra que me viu nascer.
O pirolito era um refresco que muitos ainda recordam com saudade, que mais não seja pela garrafa do berlinde, que se abria pressionando-o com alguma força.
Era posto a refrescar em celhas de madeira com água fresca do poço, ou na melhor das hipóteses, com bocados de gelo, comprado em barra, que se ia partindo, à medida das necessidades e se mantinha embrulhada numa sarapilheira, para não derregar rapidamente.
Era uma gasosa com um leve sabor a limão, que bebida muito depressa provocava uns arrotos monumentais, que a rapaziada aproveitava para fazer concursos. Prémios para o maior número de carreirinha e para o que conseguisse troar mais forte.
A higiene e segurança do frasco não eram os seus pontos fortes e daí o seu desaparecimento.
Nessa época, Évora fazia gala em se apresentar sempre asseadinha, sem papeis ou outros lixos espalhados pelas ruas. Claro que a Câmara utilizava para esse efeito indigentes e outros trabalhadores mal remunerados que passavam o dia inteiro a não fazer outra coisa que não aquela.
Tinham mesmo um pau com um alfinete na ponta com que espetavam as beatas dos cigarros entaladas entre as pedras da calçada. Muitas destas, infelizmente, eram recicladas pelos funcionários que as apanhavam e as fumavam directamente, as desfaziam e enrolavam em mortalhas ou, na sua falta, em papel de jornal.
Os internados no Albergue Dsitrital, com saída aos domingos, engrossavam as fileiras deste exército de apanhadores de pontas de cigarro. Lembro o Bau-Bau, o Tomás das Castanholas e outras caras de que já esqueci os nomes.
No Verão, ao fim da tarde, havia mesmo uma camioneta com água que lavava as ruas. Antes de começar a chover, as sarjetas eram desentupidas e lavadas para garantir um escoamento fácil das águas da chuva e evitar os maus cheiros.
Bem sei que eram menos pessoas, menos lixo, trabalhadores menos exigentes e mal pagos, mas a cidade estava limpa.
Com a classificação de Património Mundial e mais turismo por inerência, com uma universidade aqui a funcionar, com maior grau de educação média do cidadão, com maior eficácia dos meios utilizados, não será possível garantir um melhor aspecto da cidade e uma maior qualidade nos serviços de limpeza e recolha dos lixos?
Custa-me a crer.
Por este andar, julgo mesmo que podia ser uma solução, para o partido no poder, de minimizar a pobreza que por este País corre e que até já afecta cidadãos com licenciaturas e outros graus académicos superiores.
Pobrezinhos …mas limpinhos!

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Boa prosa chefe. Afinad�ssimo.

Mitra, anos 50, boleia para �vora na caixa duma furgoneta carregada com os ditos pirolitos. Este seu amigo e um outro c�mplice energ�meno - no trajecto at� �vora �amos esvaziando uma caixa deles. Parecia um festival de fogo de artif�cio.
sacanagem pura. abra�o

18/10/07 17:48  
Blogger Bichodeconta said...

Como eu gostava de pirolito, só não sei se gostava do conteúdo ou do berlinde, e receio que fosse o meu caso, já que não tinha brinquedos a não ser os que fazia em conjunto com as irmãs e as primas.Um abraço, obrigada por me fazer recuar até ao tempo do pirolito..

19/10/07 11:17  

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