domingo, setembro 23, 2007

Trópico de Câncer em rota de colisão

Ao cair do pano do Verão, elas aí estão. Como na Guiné ou em Macau.
Ao fim da tarde, as nuvens iniciam uma dança de “candomblé”, subindo e descendo, enrolando-se, contorcendo-se numa espiral de energia ascendente, rasgando os céus em luz, ribombando em negros trovões de medos passados.
As bagas grossas começam a bater as terras ressequidas levantando pós antigos, molhando securas de agora. A pouco e pouco as águas retemperam e reequilibram, devolvendo à terra o cheiro que o Sol roubara.
Os disjuntores disparam, borrando as cores com o negrume da noite.
Aqui e além a notícia de granizos e desmandos. As ramagens na estrada, as folhagens ao vento, o troar do relâmpago, lembram as ladainhas e preces a Santa Bárbara das velhas avós.
O enterro da estiagem faz-se com pompa e circunstância.
As águas e a pedra de hoje, asseveram ainda mais as já comprometidas vindimas por um Verão a que faltou calor na altura própria para adoçar e alourar os cachos.
A noite branca e negra dos lados de Espanha, indica o início e o fim das borrascas. O Alentejo tropicaliza-se.
Quem sabe se o café e o chá nas encostas não irão substituir os trigos e os girassóis das planuras?
Ao calor juntou-se a humidade. Por aqui e por ali já se fala com sotaque daquelas bandas.
Os trópicos subiram em latitude.

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