segunda-feira, setembro 24, 2007

A Rima da Alma

Imagem daqui

Ninguém escreve por escrever. Quem escreve quer ser lido. Escrever impõe partilha, por vezes cumplicidade.
Os sentimentos, as emoções só têm sentido se em parceria.
O homem, como animal social e socializante, quer espectadores, quer participantes, quer parceiros nos seus actos ou gestos mais simples, mesmo quando está só.
Não é raro encontrarmos crianças que falam com os seus amigos imaginários, a quem dão nome e estatuto.
Escrever é um retomar dessa atitude, duma forma menos teatral talvez, porque nos falta já a inocência. Temos o espírito contaminado com figurinos comportamentais, a noção do ridículo tolhe-nos os movimentos, a genuinidade perdemo-la nos meandros da civilidade.
Mas escrever é responder aos anseios que legitimamente nos assaltam e a quem damos voz, nem sempre erudita, nem sempre atractiva, nem sempre criativa ou empolgante, mas a maior parte das vezes sincera.
Pode a voz ter tonalidades diversas, mas é sempre a nossa voz, imortalizada em forma de letra, ainda que comida pela formiga branca ou pelos vírus informáticos.
Em prosa ou em verso, tem sempre a rima da nossa alma como uma assinatura reconhecida por notário.
Os janados da escrita, alimentam-se de ilusões e fantasias, ainda que se quedem pela crónica fácil e próxima.
Não são necessárias citações para enriquecer a prosa ou seleccionar audiências. A autenticidade deve saltar das linhas e entrelinhas, conferindo-lhe singularidade, emprestando-lhe confiança e enriquecendo-a com o perfume da verdade expressa.
É bom que depois da leitura, alguma coisa fique na memória de quem leu, que possa servir de referência ou pelo menos lembrá-la de vez em quando, como o refrão duma cantiga que gostamos.

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