quarta-feira, julho 18, 2007

Leituras e Reflexões

Continuo a interrogar-me sobre as razões que estiveram na origem do 25 de Abril de 1974.
Terá sido um golpe militar com vista a acabar unicamente com a guerra colonial, que ameaçava eternizar-se, sabiamente aproveitado pelas forças políticas organizadas, a que não seriam estranhos alguns dos militares envolvidos?
Haveria da parte dos militares revoltosos uma consciência perfeita da dimensão do gesto, como se adivinha do seu manifesto, designado por Programa do MFA? Terá esse programa servido apenas de alavanca mobilizadora para envolver civis e dar ao levantamento militar uma dimensão social, que não estaria na perspectiva da maioria dos militares envolvidos?
Passados que foram estes anos sobre a data e os acontecimentos sobrevenientes, as dúvidas, que não tinha, começaram a instalar-se e a corroer a imagem impoluta que dela guardei todo este tempo, como relíquia profanada pelos guardiões do templo.
Ao ler a autobiografia de um camarada que abandonou as fileiras e se viu envolvido pelo Maio de 68 em França, como um passarinho caído do ninho no meio duma borrasca e entre gaviões, apesar da sua cultura política acima da média, pergunto-me como foi possível fazer esta revolução, praticamente sem vítimas mortais, contra uma polícia política que parecia tudo controlar, através duma rede de informadores com cobertura nacional e de torcionários de alto gabarito?
Não terá sido a mesma organizada com o seu consentimento tendo em vista entregar o poder a um homem forte do regime, o General Spínola, descontente com o rumo que as coisas pareciam estar a tomar para as bandas de S.Bento?
Como foi possível depois do 28 de Setembro e sobretudo depois do 11 de Março, do seu ELP e da sua fuga, atribuir-lhe o grau de Marechal e ter assento vitalício no Conselho de Estado, que tanto quis subverter?
As conjecturas levar-me-iam a pisar terrenos que ainda hoje me são estranhos, por opção, e por isso não vou alargar-me muito mais.
Fica-me, ainda assim, um amargo de boca, uma dor no peito, um sentimento de perda que não sei explicar.
Claro que estou feliz pela forma como as coisas evoluíram no sentido de dar uma dimensão europeia ao país, mas triste comigo próprio, qual Boneco de S.Aleixo, por não ter tido a coragem de me ter separado mais cedo dessa imagem de cavaleiro andante, com que sempre vi os camaradas e amigos que tanto se expuseram e com quem partilhei anseios e angústias.

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1 Comments:

Blogger Bolinha said...

Por acaso já me apeteceu várias vezes falar consigo sobre isto, eu prefiro continuar a achar tudo cor de rosa para não sofrer, mas é sem dúvida uma atitude pouco correcta ( a minha), prefiro continuar a descer a Av da LIBERDADE de cravo na mão apesar dos meus filhos acharem piroso, bêjos

21/7/07 10:34  

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