domingo, julho 22, 2007

Democracias e Máscaras Micénicas

Ser democrata não é sinónimo de respeitar as ideias ou as vontades populares ou maioritárias.
Ser democrata não é pretender encontrar soluções que criem consensos.
Ser democrata não é dar a todos a mesma oportunidade.
Ser democrata é, e tão somente, cumprir as regras democráticas estabelecidas.
E estas, às vezes, são extremamente dúbias quanto ao sentido.
Quando pelas regras democráticas se ganha uma posição maioritária absoluta, isso garante ao ganhador o uso quase totalitário do poder. No mínimo, permite-lhe o uso discricionário do mesmo.
Tanto que a gente se rebela quanto ao uso que as democracias populares fazem do poder, esquecendo-nos que esse ainda tem por base o centralismo democrático a legitimá-lo, pelo menos teoricamente.
A referência permanente a números quando se trata da vida das pessoas, como a precariedade do emprego, as dificuldades de acesso ao primeiro emprego, a cada vez maior distância dos serviços de saúde primária em relação aos cidadãos, o abandono a que são votados os que deram toda uma vida de trabalho à sociedade, faz com que tenhamos da democracia e do poder que a mesma instalou neste país, uma imagem nada consentânea com os valores que a originaram.
Onde está a solidariedade social? Onde está o humanismo paritário na tomada de medidas sociais?
Deixou de interessar! Só interessam os números e mesmo esses só os que respeitam a saldos credores aos olhos, claro, dos investidores internos ou externos.
Não interessam os números que se prendem com o desemprego motivado por “deslocalizações” de multinacionais.
Não interessa se vendemos a alma ao diabo, desde que isso crie a imagem de que, por momentos, vivemos no paraíso!
Dos factores de produção, a mão de obra (a força de trabalho) é o que menos interessa. Essa já nem dispõe da ajuda dos sindicatos para a proteger. Resta-lhe mendigar um posto de trabalho ainda que precário e ao preço que a concorrência desleal da imigração clandestina lhe permitir.
Pobre país sempre entalado entre os interesses corporativos. Agora e sempre, dos da política partidária empoleirada.

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