segunda-feira, abril 23, 2007

CRAVOS DE PLÁSTICO

A memória é terrível. Atraiçoa-nos a cada passo. Parece ainda que foi ontem o 25 de Abril e já lá vão 33 anos. Eu não tinha esses e já não farei outros tantos. O que se passou entretanto? Tanta coisa e tão pouca! Tantas esperanças e tantos sonhos por cumprir.
Os militares cumpriram. E a sociedade civil? Continuou a fazer o que já fazia. A atirar culpas para cima da conjuntura, para o que vem de trás, para isto, para aquilo, para aqueloutro. E o país real? Quem quer saber dele? Que importa que não haja trabalho para todos? Que importa que grande parte dos trabalhadores não esteja inscrito na Segurança Social, que sejam explorados até à medula os trabalhadores estrangeiros?
Que se deixem actuar impunemente engajadores e gangs que os enganam e exploram tal como os patrões desonestos.
Como é possível no Portugal saído de Abril, a solidariedade ter passado a ser figura de estilo ou música de opereta? E os sindicatos onde estão e o que fazem? Como se deixaram empalar?
Devagar, devagarinho, Abril já se foi ou dele resta muito pouco! Festejar o 25 de Abril, porquê? Para quê? O que há para festejar? As músicas que me encheram o coração e a alma, até essas já se foram!
A música agora é outra! Ou é a mesma! Ou é assim ou é assim!
A escolha é fácil! Valha-nos isso!
Há dias, num noticiário em que se dava conta da actividade das brigadas de fiscalização económica, foi-me dada ouvir uma notícia que quase me fez vir as lágrimas aos olhos. De alegria! De tristeza!
Uma empresa nórdica instalada em Portugal há relativamente pouco tempo, está a construir, algures no Norte, uma segunda loja, em que estão envolvidos centenas ou mesmo mais de um milhar de trabalhadores, distribuídos pelos vários empreiteiros e sub empreiteiros.
Foi montada uma grande operação, com a ajuda de forças policiais que cercaram a zona, tendo as brigadas de fiscalização caído no recinto e passado a pente fino todos os trabalhadores, verificando a validade dos seus documentos laborais, sendo constatada a total harmonia dos mesmos com as leis e normas em vigor.
Oh! Meu Deus! Foi necessária uma empresa nórdica para que tal acontecesse!
É uma pena que a nossa democracia só sirva para pangaiadas, atropelar direitos e cometer ilegalidades!
É a entidade patronal, é o dono da obra, são os sindicatos que têm que tomar isso nas suas mãos e fazer que o 25 de Abril aconteça. Que nos tornemos um país responsável e com credibilidade no concerto dos agentes económicos, para que possamos respeitar-nos a nós próprios e sermos pelos outros igualmente respeitados.
Sá assim a democracia acontecerá e o 25 de Abril merecerá ser devidamente celebrado.

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