sábado, abril 21, 2007

A Arte de Bem Matar

Imagem retirada daqui
Na sequência e a propósito dos últimos incidentes com armas de fogo nos EU, que fizeram um número enormíssimo de mortos civis e fazem um número interminável de mortos diários no Iraque, no Afeganistão e por todo esse mundo de loucos em que vivemos, parece importante perceber as razões porque é fácil matar.
Nem sequer é preciso ser corajoso! Basta algum treino básico na maioria dos casos. Os sistemas de armas de guerra mais sofisticados requerem obviamente procedimentos mais complicados e restritos.
A evolução das armas tem determinado a forma como os conflitos se vão resolvendo e as guerras se vão fazendo, aumentando as distâncias entre os contendores.
Desse modo, deixou de ser uma luta directa entre opositores com golpes que foram variando das dentadas aos varapaus, destes às pedras lascadas e lanças com lâminas do mesmo material, passando depois na época dos metais pelas facas, cutelos, espadas, pelas lanças com pontas metálicas aguçadas e tantas outras.
Todas estas armas, porém, impunham a presença e o seu manejo directo pelos guerreiros, relevando a destreza física e a perícia.
A partir daqui, entrou-se na fase de matar ou ferir à distância, com zagaias lançadas por arcos ou bestas.
Ainda assim, estas armas impunham avistamento dos alvos, a distâncias muito curtas. Com a descoberta da pólvora e o uso do fuzil as distâncias aumentaram e a guerra tornou-se de algum modo impessoal. Já não era preciso ver os olhos do inimigo. Bastava a sua silhueta.
Mas não foi suficiente para o homem. Precisava de não saber quem matava, para não sentir pesos na consciência e hesitações no carregar o gatilho, que lhe poderiam ser fatais.
A artilharia primeiro, com canhões pesados, de recarga difícil e morosa. Depois os automatismos, aumentando cadências de tiro e melhorias nos aparelhos de pontaria.
Mais tarde, com aviões e navios foi possível levar a guerra a terras distantes, matando de muito longe e sem contar mortos.
Os explosivos foram evoluindo aumentando as distâncias de tiro e o seu efeito destruidor, que culminou no final da Segunda Grande Guerra com o rebentamento das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki.
A partir daqui, ficaram-se as ameaças e as intimidações.
As armas atómicas, entretanto, sofreram alterações profundas quanto à sua forma de lançamento e acompanhamento durante o trajecto, quer ainda no seu poder destruidor, atingindo-se números assustadores, tendo como padrão as primeiras lançadas, já referidas.
Os mísseis vieram dar uma mobilidade e eficácia ao tiro a distância, nunca antes conseguida. O seu acompanhamento durante o voo permitindo dirigi-lo, a aquisição dos alvos pelo míssil e auto-seguimento, as suas ogivas múltiplas permitindo durante o lançamento ser endereçadas para alvos diferenciados e distantes uns dos outros, a sua autodestruição em caso de necessidade, tudo isso fez destes instrumentos de morte o cerne da guerra moderna.
Outros instrumentos de morte altamente sofisticados estão ao dispor das Forças Armadas dos Estados Unidos, havendo conhecimento só de alguns pelos resultados do seu emprego recente no Afeganistão e Iraque, como seja o caso das bombas inteligentes que têm capacidade para buscar alvos ocultos. São uma espécie de bilhetes-postais enviados, a pagar no destinatário.
O alvo passou a estar ao alcance da coragem de carregar uma tecla de computador, dum qualquer botão ou chave de ignição dum sistema de disparo e guiamento duma arma auto propulsionada, lançada a partir de plataformas terrestres, marítimas, submarinas ou aéreas. Não se sabe mesmo, se também espaciais!
Também pode estar ao alcance dum qualquer desequilibrado, criminoso ou desesperado. Ou seja, matar tornou-se um jogo de Nitendo ou Playstation 3.
Eu não matei, tu não mataste…nós morremos!

Etiquetas: