quarta-feira, maio 05, 2010

Só de ouvir cantar o cuco

Depois de algum tempo afastado do matizado da paisagem alentejana, neste momento pintada de todas as cores do arco-da-velha, regressei por algumas horas ao seu contacto materno, com cheiros de coentros e alho na mesa, de rosmaninho, alfazema e alecrim no olhar.
Lá estavam os melros meus conhecidos, roubando na minha cara os morangos acabados de pintar. Também as papoilas vermelhavam nos canteiros menos tratados e me relembraram outro Maio, em que mudavam de mão, entre sorrisos, como um suspiro de alívio e uma promessa de futuro mais solidário, mais justo, mais humano.
Debruçadas nos muros de madressilva ou nas pérgolas das portadas, cachos de rosas brancas, amarelas e vermelhas, davam-me as boas vindas.
No tanque de rega, tabuleiros de esferovite mostravam a maternidade hidropónica de tomateiros, agriões, beterrabas, couves e alfaces, à espera de desembarque, numa esperança de terra firme e prometida.
Tudo renasce com a humidade deixada no solo e o calor dum sol, até aqui, bonançoso.
É a vida, ao virar de cada esquina, dizendo que o Inverno já passou e que está na altura aproveitar o Sol que ri e nos enfeita.
Lá longe, cantava o cuco!

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