sábado, maio 01, 2010

Palavras desatadas

Cada um de nós sente as palavras, cá dentro, a quererem sair de forma diferente. Como um arroto, uma flatulência, um soluço ou como uma torrente, um turbilhão, uma loucura.
Arrastam-se pela pena ou pela laringe ou escapando-se pela nesga da porta, voam para as alturas intangíveis da vontade.
Depois desfazem-se como castelos de cartas ou se enraízam e crescem como árvores que querem florir e infrutescer, dar sombra e protecção. Às vezes, iluminar…
Pela mão dum amigo, compadre, camarada e companheiro de muitas lutas, tive acesso a dois livros escritos pelo pai, lutador antifascista, homem de acção e voz solta pela vida, que nos legou a sua palavra de escutar, avisada, conhecedora, premonitora, a um tempo rígida e flexível, agridoce, tão bela e sedutora quanto a voz duma criança entoando hinos etéreos à vida, que viveu com a intensidade da revolta sempre contida e finalmente liberta numa primavera, em Abril.
Destaco pelo estilo dois versos que considero lindíssimos.

“Se é meu modo de falar
Este modo de escrever
Como se para dizer
O que temo confessar
Tivesse de procurar
- Enleado no querer
E no medo de poder –
Outro modo de expressar
Porque não hei-de eu escrever
Neste modo de falar? “….

Noutra passagem:

…“As ideias, seres viventes,
Por viventes produzidas,
Discutidas, transparentes,
São do Mundo pertencentes
Para ao mundo ser servidas.
São riquezas imanentes
De um espólio universal
Como se frutos pendentes
De úbere manancial.”

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2 Comments:

Blogger platero said...

Boa prosa

abraço. Quando nos batemos à sueca?

1/5/10 22:21  
Blogger JR said...

Não nos tempos mais próximos quero crer, uma vez que vou ter actividades semanais a que me não consigo furtar tão cedo.
Tenciono ir um destes dias aí de fugida tratar de alguns assuntos.
Se assim for digo alguma coisa.
Abração

2/5/10 22:56  

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