segunda-feira, fevereiro 08, 2010

É o bicho, é o bicho!

Imagem daqui
A vida tem-me vindo a tapar os ouvidos, fazendo de um bom ouvinte, que era, um mau entendedor das coisas ditas e atirando-me, por vezes, para o recôndito das minhas memórias auditivas como única forma de ouvir, pelo sentido.
Este intróito para dizer que a surdez me vai invadindo com a rapidez das más notícias e o desespero de quem nada ou muito pouco pode fazer.
É uma lei da vida, injusta, porque nos apanha numa altura em que deveríamos ouvir melhor para reforçar as cada vez mais débeis condições de segurança em que somos obrigados a deslocar-nos.
Pois bem!
Hoje de manhã, quando estava a cumprir uma das tarefas diárias de que mais gosto, o dar de comer aos cães e de seguida dar com eles uma passeata pelas redondezas, tarefa essa que decorre a cerca de cinquenta metros de casa, de lá ouvi um grito da minha mulher, audível como se estivesse ao meu lado.
Adivinhem-se os decibéis necessários para o efeito!
Não havia trovoada, não senti nenhum tremor de terra, nada na pacatez desta terra seria capaz de originar tamanha reacção a não ser um incêndio, uma queda desamparada ou um qualquer desabamento inesperado. Estou mesmo em crer que para ter ouvido semelhante grito toda a aldeia o deve ter ouvido.
Larguei de forma desabrida a correr até a casa e de todo descansei quando vi a minha mulher à porta, sem sangue nem aspecto de lhe ter caído a casa em cima, nem de lá se vislumbrando vestígios de fumo que indicasse fogo.
Parei e com a voz entrecortada pela necessidade de meter ar que me faltava nos pulmões, perguntei o que se passava, respondendo-me com um gesto – Olha ali! Um bicho! - tudo isto dito com um ar apavorado e uma voz tremelicante.
Aproximei-me e descortinei então um lagartito, mais morto que vivo, pouco maior do que o símbolo da Lacoste, que se arrastava por entre os vasos da varanda, saído de forma inadvertida do seu refúgio de hibernação.
A minha mulher, estarrecida, apenas conseguia articular as palavras - mata-o!mata-o! Fez-me lembrar uma música que há uns anitos andava na boca de toda a gente e que rezava mais ou menos assim: É o bicho, é o bicho! Vou-te devorar, crocodilo eu sou!
Depois de lhe ter dado uma vassourada atirei-o para o meio da courela do vizinho. Talvez ali possa encontrar o sossego que não conseguiu na Courela das Rosas.
Pode ser também que este grito lancinante da minha mulher me tenha devolvido parte da audição perdida.

Etiquetas:

1 Comments:

Anonymous Ana jr. said...

hehehe
tenho a quem sair, mas as baratas são bem mais horripilantes

10/2/10 12:26  

Enviar um comentário

<< Home