segunda-feira, abril 06, 2009

Postais ilustrados de África


(Moçambique - 26/8/65)
Porto Amélia, cidade sem alma. Ruas inclinadas empurram as curvas das pernas para o mar. Mar que apaga a sede que o Sol impõe. Cidade preguiçosa, que nasce quando o Sol se afoga nos seus horizontes acobreados para morrer antes que a Lua se levante das águas da baía, batida pelo Sueste.
No porto pouco movimentado, silhuetas de navios de guerra quebram a continuidade do contorno circular da baía.
A guerra emprestou à cidade algum movimento que, por desusado, acordou os seus habitantes do sono ancestral em que viviam.
As moças, valorizadas pela escassez, exibem aos fins de semana, na maravilhosa praia da costa norte, os seus atributos.
Os jovens, que descansam da guerra, encontram nos seus olhares maliciosos a coragem e a expectativa, que os ajudará a esperar pelo próximo fim de semana.
Nas areias que devolvem toda a luz do Sol, as populações locais procuram na maré-baixa moluscos compridos e esguios que servirão de isco para garoupas, xaréus e serras, que abundam junto às rochas ou para lá dos corais.
A caça-submarina deleita os aficionados pela variedade da sua fauna e pela beleza deslumbrante de mil cores das floreiras coralíferas ou pela negrura das suas paisagens abissais.
Porto Amélia, cidade de sol e sombra.

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3 Comments:

Blogger platero said...

foi um pouco minha Terra. E ainda é hoje. Por isso eu a chamar de PembAmélia.
Pátria de mulher bonita, de poeta,Glória de Santanna, felizmente ainda viva para os lados de Ovar.
Conheceu PolO-Sul?: Esplanada esplêndida ao cimo da rampa que leva da cidade velha (histórica), do Cais, à cidade Nova, à Praia de WIMB, da Tininha, do Restaurante-Bar da Lagosta suada e da sandwish
da macia tartaruga?
De lugares-comuns falarei da lancha-de-desembarque Antares e do comandante Costa. Costa quê? já nem sei. Ingrata memória.
Mesa posta para dois, Almoço farto e bem regado (daí talvez meu debilitado fígado) e um passeio sereno pela Baía, escoltados tanta vez por vistosos cardumes de atum.
Caça submarina?: Barbatanas azuis/arpão de elásticos, tipo fisga/máscara (preta) com respirador de encaixar na boca, tipo prótese...e pronto - toca a mergulhar:
abismos de azul-escuro; rochas ocas
habitadas por dezenas de lagostas; chão de areia branca de onde, de vez em quando, levantado "poeira", se desenrosca uma Raia (jamanta?)
graciosa na sua enormidade. Um delta enorme de vida deslocando-se como se tivesse cintura e por movimentos dela se movesse - como se nadasse mariposa.
As lagostas no fundo rochoso deslocando-se como quê? como elefantes?: pegando a cauda uns dos outros? ou como camêlos conduzidos em fila no deserto?
Filas sei lá - de meia-dúzia - parece que caminhando à toa, sem destino....
E os corais...E as conchas, acho que chamadas da morte, utilizadas em algumas igrejas como pias batismais, ali bem vivas, forradas de mantos fabulosos - algumas de um azul aveludado salpicado de pintinhas amarelas.
Bom, vou abandonar este passeio maluco pelo passado e tratar burgêsmente de meia-dúzia de galinhas que comprei há pouco tempo.
Em Pembamélia bem podia ter que ir tratar de dois atrevidos jacarézitos que tinha trazido de Namuno e guardava num compartimento-estanque feito no quintal com o propósito de servir de galinheiro...
olha só o vespeiro que o meu amigo se lembrou de sacudir...

grande abraço

7/4/09 16:59  
Blogger JR said...

Já sabia que não resitiria à Caixa de Pandora.
Só que esta não está carregada de todos os males do mundo, mas de memórias que importa fazer brotar e que dela sairam pela sua pluma, enfeitadas com a magia e arte que lhe é reconhecida.
Essa, é talvez uma Pemba desconhecida para mim, que nunca tive tempo suficiente para desfrutar.
Lembro-me do Paquitequete(Será este o nome?)com a sua praia orlada por um palmar lindíssimo.
Recordo uma noite em que apnhámos um tremendo dum susto quando pescávamos da borda do navio, atracado ao cais, com uma bambiarra pendurada do costado como chamariz.
Um enorme tubarão, provavelmente um tubarão-baleia, atravessou o semicírculo luminoso que deveria ter um raio à volta dos cinco metros, e já cabeça havia desaparecido por baixo de casco do navio e ainda se lhe não via a barbatana da cauda.
Pensar que durante o dia nos entretínhamos saltando do navio para a água, deixou-nos um certo engulho na garganta.
Mas tudo isso são pinceladas duma África que gostámos e que adorava revisitar, pelo menos, desta forma.
Obrigado pela ajuda

7/4/09 22:30  
Blogger platero said...

Paquitequete, sim senhor, descia-se por uma rampa cimentada, coqueiros em volta, palhotas à babugem, com os pés quase de molho,
meia-dúzia de mastodônticos embondeiros - um ou outro com panos brancos no tronco quando acontecia morrer gente maior ali por perto.

animação noturna permanente, com bebidas "cafreais", batuque e raparigas lindas -sobrando tudo de uns dias para os outros

9/4/09 16:51  

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