quinta-feira, abril 02, 2009

Limpeza de Brancos


Macaca, era a alcunha tornada nome, dum grumete fuzileiro, feioso que nem uma macaca, desmazelado, sem cabedal para aguentar as exigências duma tropa especial, mas que, como em tempo de guerra não se limpam armas, lá fora empurrado e enviado para a Guiné, integrado num destacamento de fuzileiros especiais, ainda por cima.
Era o protótipo do provinciano chegado das berças, que os vivaços adoram explorar na sua santa ignorância das coisas do mundo e nos seus hábitos nem sempre salutares quando partilhados em espaços reduzidos.
Macaca vai buscar isto, Macaca leva lá aquilo. Macaca tornou-se a ordenança de todos, nunca regateando esforços. A sua humildade tornada servilismo era aproveitada até pelas “bajudas” que, não estando autorizadas a passar o portão de entrada do aquartelamento por razões óbvias, dali lhe gritavam o nome por que era conhecido e que fazia parte das poucas palavras de Português que dominavam, para que levasse a roupa lavada aos seus camaradas.
Macaca não se ofendia que o chamassem assim e logo se apressava a fazer as entregas contentando-se as mais das vezes com um não, quando se atrevia a tentar um beijo ou apalpão.
De vez em quando, com ajuda ou sem ela, lá se entornava um pouco, mas nunca perdendo o sentido da pacatez que normalmente o animava.
Era também ele que se encarregava dos elementos da população apresados no mato, garantindo que não fugiam mas que também não eram maltratados. Era tarefa que todos rejeitavam, duma maneira geral.
Certo dia, porém, Macaca foi centro dum desaguisado que resultou em grande burburinho. Indagados os responsáveis, responderam tratar-se duma baldeação, ou melhor, duma lavagem de costado da Macaca com lambaz e saponária.
Na caserna-abrigo já ninguém podia entrar com o fedor que da cama e da roupa dele se exalava pelo que, depois de muitas ameaças, terem tido que passar à acção.
As roupas foram entregues às “bajudas” para desinfestação completa e o colchão posto ao sol.
Desta vez Macaca beneficiara de serviço completo. Chamar-lhe-ia eu, em gíria naval, de “limpeza de brancos”.

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