domingo, setembro 14, 2008

A Epopeia da Vinhaça

Imagem daqui

Fazer vinho, para mim, tornou-se uma das minhas paranóias de velhice, uma espécie de competição comigo mesmo e com os outros.
Não é só um entretenimento.
Foi de alguma forma uma descoberta e agora é uma questão de obrigação fazê-lo sempre melhor que da última vez, tornando uma actividade lúdica numa espécie de tarefa profissional, em que se busca sempre o melhor resultado. Não a qualquer custo, como ouse dizer-se a propósito de rendibilidade e eficácia. Não corro atrás nem à frente de ninguém, a não ser de mim próprio. É um jogo em que perco sempre na medida em que fico sempre atrás das expectativas que vou criando.
Não importa, porque o próximo sairá melhor que este, de certeza.
Mas vamos à estória do deste ano.
A produção de uva, este ano, sofreu uma quebra enorme em quantidade, mas por outro lado a qualidade da uva é promissora.
Daí que haja uma procura enorme de uva pelas grandes adegas, com marcas de vinho firmadas no mercado, fazendo escassear a oferta para os que, como eu, desejavam apenas uns quilitos de matéria-prima para produção própria.
Foi assim, que fui esbarrando em todas as capelas, que se iam fechando à minha passagem, não me dando hipótese nem de um Padre-Nosso.
Estava já a ver-me restringido à minha fraca produção de duas centenas de quilos de uva, de baixo teor em açúcar, dada a pequena exposição solar, quando em conversa de acaso, com um amigo de infância, o mesmo se disponibiliza para me arranjar a quantidade de uva desejada, havendo que a ir buscar a uma aldeia próxima.
Respirei fundo e tratei de arranjar o transporte, quando o mesmo amigo me telefona dizendo que afinal não podia, pois que não se lembrou, na altura, de que era obrigado a entregar toda a produção à cooperativa, sob risco de penalizações elevadas.
Já desesperava, quando me telefona outro amigo e antigo colega de liceu, dizendo-me que não me preocupasse, pois um amigo comum, dono de uma vinha e pequeno produtor vinícola, havia este ano vendido a totalidade da uva a uma adega grande, mas reservara umas fiadas para si e para os amigos e que me dispensaria uns trezentos quilos.
Agradeci aos deuses e aos amigos que parece ainda vou tendo e lá fomos ontem fazer a vindima com uma equipa que arranjei.
Esmaguei algumas uvas de cada uma das castas vindimadas e na proporção devida e tratei de ir fazer um teste ao mosto e trazer os produtos necessários a uma fermentação de qualidade.
O teste revelou uma quantidade provável de álcool de 14,6%, ácidos baixos, bastante promissor em termos de qualidade final do produto e me fez atrever a juntar cerca de cem quilos das minhas uvas, que me pareceram com melhor teor de açúcar.
Tudo pronto para começar as tarefas de adega, quando ao ligar o moinho, este se negou a funcionar.
Havia-o testado horas antes e estava óptimo, mas na hora da verdade borregou. Sábado, fim de tarde, numa aldeia sem grandes possibilidades de apoio oficinal, pareceu-me o desastre total, com a tão desejada uva esperando a maceração e aquecendo nas caixas.
O desespero levou-me a abrir a caixa da tomada de corrente ao motor e verifiquei para descanso meu, que era uma fase desligada.
Assim que consegui que o moinho funcionasse, nem as tampas da caixa e chassis que havia retirado coloquei.
Finalmente, com a uva moída e o “tempero” aplicado, está lançada a sorte para um vinho que quero seja melhor que o anterior e possa dar-me a alegria de o partilhar com os amigos.
Em Novembro se verá.

1 Comments:

Blogger platero said...

não se esqueça de mandar benzer a adega

boas fermentações, grande abraço

14/9/08 22:48  

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