quinta-feira, junho 19, 2008

Revolução da Esperança


Há muito que não sentia a política como instrumento de paz e justiça, como grito de liberdade e esperança, como rampa de lançamento de solidariedade e humanismo.
Por ironia do destino, tudo isto me foi servido em salva de prata por quem menos esperaria – Mário Soares.
Uma entrevista na RTP com Hugo Chavez, mandado calar nas chancelarias americanas e europeias, que colocou as suas dúvidas, ansiedades, esperanças e certezas acerca do mundo que todos os dias nos parece mais injusto, inseguro e pobre, com um discurso sereno mas firme, de uma dimensão social e humana espantosa, ecoando como carrasco na nossa consciência pesada, mas também como piedosa desculpa pelo esforço que temos feito em prol da democracia participativa, segundo a sua visão.
Não deve ser fácil ser vizinho do país mais poderoso do mundo e ter que o enfrentar diariamente, em todas as frentes que lhe vão abrindo.
Falou das iniciativas em curso na América Latina para dar resposta à crise energética, com soluções curiosas para os países mais pobres ou com crises económicas mais graves, em que o petróleo e seus derivados é pago total ou parcialmente em géneros, voltando aos primórdios civilizacionais do sistema de trocas. Do Uruguai vêm vacas leiteiras prenhas, da Argentina tractores.
Na criação dum mercado alimentar, o Mercal, que já serve géneros alimentícios a cerca de treze milhões de pessoas a preços 150% abaixo dos preços do mercado livre, com resultados positivos na produção e na satisfação das necessidades básicas alimentares de muita gente.
Rebelou-se contra a crise alimentar fomentada pela corrida aos cereias para produção de biodiesel e etanol. Disse que na Venezuela estão recorrendo à produção de etanol a partir unicamente de cana de açúcar, como aditivo da gasolina, tornando-a menos poluente.
Foi essencialmente uma conversa de esperança, num mundo refém das políticas hegemónicas americanas, que me fez aflorar por mais duma vez as lágrimas aos olhos.
Julgo, que pela primeira vez na minha vida, tenho que agradecer alguma coisa a Mário Soares pela capacidade que tem de ainda me conseguir surpreender, aos oitenta e três anos!

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