sexta-feira, abril 11, 2008

Ponto carteado


Apetecia-me navegar uns dias, naturalmente agora bastariam umas horas, só para ter o prazer de regressar e pousar o pé em terra firme outra vez. Foi o que me ficou de marujo, suponho.
Ontem, “navegando em companhia”, alentejanámos. Fomos em viagem de penitência supliciar-nos por terras de beira-mar alentejano, em busca do ermitão.
Lá o encontrámos na sua postura diáfana, encarrapitado na solidão dos montes sobranceiros ao mar, no voo das gaivotas, das cegonhas perdidas e dos pelicanos achados e na lentidão do seu "rafeiro enxertado".
Carregámos na tecla do replay e foi um trasvazar de emoções, que se estendeu dos medos sublimados das guerras ao sufoco do riso das partidas pérfidas de juventude, passando pelo incómodo recalcado de mãos que ficaram por estender a quem delas carecia para se não afundar, nos maremotos da política.
Política e militares sempre foram mistura explosiva, ainda que na mão de civis.
O mar presenteou-nos com um dos seus mais saborosos frutos, a maresia, que esvoaçava pelos penhascos em forma de espuma volatilizada pelo sopro do sudoeste rijo e nos caía em cima, como flocos de neve, largando odores que entram pelas ventas, salgam a alma e nos embranquecem os cabelos.
Afogámos mágoas e desventuras, renovámos votos de companheirismo e solidariedade, despedimo-nos com abraços enxutos.
Apetecia-me navegar mais uns dias ou, talvez, apenas algumas horas…

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