sexta-feira, outubro 12, 2007

Tempo de esquecer ou de lembrar

Nem sempre o que temos para lembrar é bom, da mesma forma que nem tudo é mau.
Uma qualidade importante na minha idade é saber escolher dos arquivos o que nos dá prazer recordar, criando um “firewall “ que impeça o acesso, ainda que inadvertidamente, àqueles que nos causam dor ou desconforto. Não devemos apagá-los, porque muitos nos trouxeram ensinamentos, que permitiram evitar contratempos ou outros aborrecimentos.
De alguma forma, tudo o que nos acontece na vida tem aspectos positivos e negativos. Há que explorá-los de forma adequada.
As vidas só nos acontecem uma vez, pelo menos no meu entendimento, pelo que devem ser exploradas ao máximo. Não há que lamentar senão o tempo perdido a analisar exaustivamente o que nos aconteceu e podia ter acontecido. A vida é descoberta. Por isso mesmo com aspectos mais conseguidos e outros nem tanto.
Os itinerários só são em parte escolhidos por nós. Ninguém tem culpa de ter nascido aqui ou acolá. Ser filho de preto ou de branco, nascer judeu ou islamita. Só a partir daí é possível, dentro das limitações que isso impõe, arranjar alternativas. O dinheiro, a educação, o engenho e a arte poderão ser aliados importantes.
De vez em quando, da mesma forma que fazemos com o nosso computador, há que reordenar os ficheiros e colocar nos favoritos aqueles que mais nos interessam ter à mão de semear e em pastas temáticas aquelas memórias a que não pretendemos aceder com frequência.
Mas, ainda assim, acontece elas aparecerem sem que tenhamos sido ouvidos nem achados para o facto.
Entre essas memórias, encontra-se uma situação que vivi profissionalmente, que como militar não aspirava, mas que acabou por me pôr em contacto com uma realidade que do ponto de vista humano foi gratificante.
O traquejo então conseguido, veio a mostrar-se fundamental na abordagem à gestão de pessoal civil que tive ocasião de experimentar anos mais tarde, num contexto empresarial.
Trabalhava-se então praticamente sem computadores, fazendo todo o trabalho de gestão de mil e quatrocentos funcionários civis, que constituíam os efectivos da Marinha nessa altura, manualmente.
O histórico guardava-se em processos quase desfeitos pela passagem sistemática dos dedos por cima dos cartões de suporte, sempre que se queria procurar qualquer informação.
Aprendi na pele a necessidade de acesso rápido à informação em tempo oportuno, para preparar decisões fundamentais na vida profissional dos funcionários pelo que terão sido dados, nessa altura, os primeiros passos no sentido da informatização dos serviços.
Muitos brincavam com o facto de ser o único elemento masculino num universo de dez ou mais funcionárias que me assessoravam, glosando uma situação, na altura muito conhecida das telenovelas brasileiras, das “rolinhas do coroné”.
Era gente de trabalho. Trabalho duro, não reconhecido.
Muitas delas certamente já se terão aposentado, outras estarão noutros serviços. Recordo-as a todas na pessoa da sua chefe, que julgo estar em vias de se reformar e que detinha em memória todo o conhecimento necessário ao bom funcionamento do serviço, sendo o pilar fundamental da repartição. Sem ela não sei o que teria feito numa área completamente estranha e que atravessava um período de grandes mudanças, um pouco semelhante ao momento que hoje se vive na Função Pública.
Um beijinho Isabel, extensivo a todas elas.

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