quarta-feira, outubro 24, 2007

As voltas do vinho

Isto de fazer vinho, tem que se lhe diga! E manter a reputação, nem lhes digo nem lhes conto!
Mas dá um gozo dos diabos!
O ano passado as uvas estavam carregadinhas de açúcar e deram um vinho de quinze graus. Apesar de ter sido difícil a fermentação malo-láctica, ou seja, a decomposição pelas bactérias lácticas, do ácido málico em ácido láctico e outros componentes, o vinho acabou por ser considerado um vinho excepcional no meio dos seus pares amadores.
Este ano, a coisa está mais preta do que tinta. Para já, a quantidade de açúcar na uva diminuiu substancialmente com umas chuvadas em véspera de vindima, que fizeram alterar consideravelmente todos os parâmetros vínicos.
Praticamente a mesma quantidade de uva do ano transacto, produziu mais 15% de vinho este ano, o que obrigou a arranjar vasilhame extra para garantir o processo complementar de vinificação, após a fermentação.
Daqui resultou que o vinho armazenado em vasilhas de plástico tem sofrido um processo diferenciado daquele que foi guardado em cuba inox.
Enquanto neste decorre o processo sem grandes perturbações, no outro aconteceu qualquer coisa de estranho que fez aparecer ácido sulfídrico e lhe pôs um cheiro nauseabundo a ovos podres, que obrigou a uma manobra, que esperemos resulte, de o fazer arejar e passar por um instrumento de cobre.
Espera-se que o ataque do ácido ao cobre liberte o SO2, retirando-lhe aquele cheiro desagradável, que necessariamente lhe alteraria também o sabor e anularia de todo o prazer de o beber.
Se assim for haverá mais vinho, este ano, para partilhar com os amigos. Doutra forma, ficar-se-á reduzido à quantidade do costume, eventualmente com menos qualidade do que o anterior, mas na mesma com a certeza de que se bebe um vinho natural, sem aditivos, feito com o nosso esforço e carinho.
Não tenho dúvidas que saíria muito mais barato comprar um bom vinho numa área comercial, certamente “mais bem feito”. Mas, quando o estivesse a partilhar com os amigos estaríamos a beber um vinho que qualquer deles poderia ter adquirido em qualquer lugar e não a beber um produto único, fruto da teimosia, do trabalho e da aprendizagem.
Esta, provavelmente a última a ter oportunidade de tentar de forma sistematizada.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

mais vinho, mais amigos ....
havemos de o provar se ele não evaporar.
Não desespere senhor comandante, pois se for como outros produtos, por exemplo o queijo com aquele cheiro a transpiração dos pezinhos...
vai ser uma pomada do caraças.

xfonseca

25/10/07 13:39  

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