quinta-feira, abril 12, 2007

Por entre "Coriscos" bem amanhados

A propósito do livro “Amores da cadela pura”, mais precisamente da sua autora, a Marquesinha da Fajã, lembro uma noite de loucuras açoreanas, em que na companhia dum grupo numeroso de raparigas e rapazes, conheci a casa da Marquesinha, em estado de abandono, quadro eléctrico desligado, com panos cobrindo sofás e mobílias e pendões tapando quadros enormes ao longo de corredores, nos salões, salas de estar e de comer.
Havia quadros a óleo com carantonhas de Papas e outros clérigos paramentados, que, à luz das velas que cada um de nós trazia nas mãos, mais pareciam almas penadas saídas dum filme de Frankenstein.
O cicerone era um familiar da escritora e com ele percorremos as muitas divisões assombradas daquele casarão senhorial, palco de histórias igualmente de assombrar.
O caseiro, que ainda habitava um dos anexos, tinha acabado há poucos dias de esmagar as uvas de casta americana, para fazer o afamado vinho de cheiro.
Directamente da dorna, provámos o mosto, ainda bem quentinho e doce. Não passou muito tempo que não tivéssemos que apagar as velas e procurar um cantinho a modos, espalhados pelo jardim envolvente da casa, sem tempo para grandes esperas.
A fermentação em curso pregou-nos uma partida inesperada.
A Marquesinha não gostou da invasão da sua intimidade.
Bastantes anos mais tarde, o cicerone, contando a história pormenorizada e documentada de cada quadro e de cada aposento, era outro, o Contra-Almirante Comandante Naval dos Açores, que herdou para residência oficial, por compra da Marinha, esta magnífica mansão.
Assim se faz a história das terras e das gentes.
Assim se contam algumas dessas histórias, com cheirinho a maresia.

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