sábado, abril 28, 2007

Faróis e Outros Alumiamentos

Uma das vantagens da idade é permitir que nos repitamos sem que daí advenha nada mais do que um sorriso de compreensão dos nossos interlocutores, o que é bom! É sinal de que os temos!
Pois bem, correndo o risco de me repetir, não dispenso a oportunidade de relembrar alguns dos momentos mais significativos da minha “singradura” naval. É claro que a designação de significativos me está directamente endereçada, pois a avaliação é minha.
Sem dúvida que a passagem pelos faróis, me revelou aspectos que desconhecia de todo, apesar de já não ser propriamente um novato nestas coisas da Marinha.
O sentido de utilidade pública senti-o ali pela primeira vez. A minha função não sendo de todo técnica naquela área, permitiu-me acompanhar o planeamento e execução de projectos para novos alumiamentos ou somente para modernização dos existentes, adaptando-os às novas tecnologias, que na época começavam a desenhar-se.
O pessoal existente, na altura, estava mais vocacionado para as tecnologias tradicionais do petróleo, do gás e da electricidade. Havia que, à semelhança do que hoje é intenção propagandeada do Governo, fazer a revolução tecnológica das instalações e das mentes.
Apostava-se, então, nos automatismos a instalar nos faróis, que permitiriam mantê-los a funcionar, assistidos à distância. Dispensava-se assim a obrigatoriedade de ter em permanência pessoal em situações inóspitas, como era o caso do Farol do Bugio ou do Farol das Berlengas.
As funções de arranque e paragem de geradores para alimentação das instalações e carga de baterias de reserva, a substituição de lâmpadas queimadas ou com capacidade reduzida de iluminação, a manutenção das características de iluminação, tudo isso passou a fazer-se automaticamente, com controlo a distância, a partir duma central. O próprio sistema de alimentação das instalações foi alterado, com a introdução dos painéis fotovoltaicos para carga de baterias, sobretudo em balizagem – bóias e farolins - de menores consumos energéticos e em que a ligação à rede eléctrica não se mostrou possível.
A fábrica de acetileno do Farol do Cabo da Roca, encerrou a sua actividade. Os faroleiros foram desviados das suas habituais funções para outras de simples guarda ou vigilância das instalações.
Em sua substituição, foi criada uma nova geração de faroleiros técnicos, em que a electrónica e mais tarde a informática substituíram, as antigas competências técnicas e culturais. Os seus conhecimentos de culinária, de pesca, de arte de marinheiro, de enfermagem, de pedreiro, de electricista, de pintor, de mecânico, de faroleiro tradicional, perderam-se.
A figura romântica do faroleiro, ou melhor, da filha do faroleiro, esfumou-se na bruma ou nevoeiro, não lhe servindo a luz que continua a indicar aos navios a existência de escolhos ou a ajudá-los a encontrar a rota segura na demanda de portos, fundeadouros ou de simples passagem.
A tradição portuguesa em farolagem é muito antiga e levou o nome de Portugal bem longe. Em Macau, O Farol da Guia, foi o primeiro a iluminar as Costas da China.
A Costa Portuguesa é, porventura, uma das mais bem iluminadas do Mundo.
Como seria bom que essa luz iluminasse as nossas gentes e os nossos políticos e não nos deixasse encalhar.

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