segunda-feira, setembro 18, 2006

O Palco de Emoções

A vida, para quem como eu acredita que somos nós a traçar-lhe os contornos, acaba por tornar-se uma obra de "design", que mostra até que ponto, nós os "designers", somos capazes de lhe emprestar utilidade e funcionalidade, alguma beleza e encanto e sobretudo trazê-la do anonimato estrutural para o palco e ribalta e fazer dela cabeça de cartaz. Se muitas vezes isso é fruto de suor e talha, outras não passa de aproveitar a boleia, de enfunar as velas ao vento que sopra, nem sempre de feição, mas que é preciso não desperdiçar, por fraco que seja ou em que direcção aponte, para mais tarde refazer a rota e delinear o figurino desejado, tão poucas vezes alcançado, mas que o artista não pode nunca esquecer. Os empurrões e tropeços também são frequentes. Se os primeiros às vezes ajudam, os segundos só podem servir para nos levantarmos e mais determinados do que nunca esculpir, se necessário a ferro e fogo, a peça que nos falta para dar sentido à obra. Quando, já perto do final lhe deitarmos um olhar crítico, é bom que sintamos que se lhe falta harmonia não terá sido porque a não procurámos, se lhe faltou utilidade e funcionalidade terá sido porque outros não lhas terão encontrado, por falta de audácia na procura ou perspicácia na descoberta.
Por fim, se não lhe virmos beleza, esperemos que seja cegueira nossa.