sexta-feira, setembro 29, 2006

O Circo

Os palhaços, de batata vermelha e guedelhos ruivos, com sapatos de légua, meias às riscas com pelos pretos e casaco e calças à golf laranja aos quadrados, fazem cabriolas por entre os malabaristas de cetim rosa vestidos, que lançam ao ar as macetas e os anéis, que, depois de aguns rodopios lhes retornam às mãos finas e delicadas de carteiristas.
Rufam os tambores anunciando os trapezistas, que em altos voos retiram gritos dos peitos arfantes, perante a espectativa de se estatelarem cá em baixo. São de todos os que mais palmas arrancam, pese embora o facto de terem uma rede por baixo, que os salvaria em caso de queda.
Não faltam os domadores com seus chicotes estridentes enfrentando as feras domesticadas a rigor, com docinhos de entremeio.
Os equilibristas da corda bamba conseguem o impossível, dançando e saltando na corda brandeada até ao limite.
Vem o prestidigitador tirar pombas e coelhos da cartola, de que toda a gente já conhece o truque.
Voltam a rufar os tambores. O apresentador pede silêncio e muita atenção ao número que se segue, pois trata-se de um exercício arriscado.
A plateia assobia, não acredita mais no artista. Já está farta dos números sempre vistos dos cigarros e das cartas marcadas. Quer ver coisas novas.
O apresentador volta a pedir silêncio e desta vez refere que o número que segue é uma coisa nunca antes tentada.
A plateia cala-se por fim.
O mago pega na varinha, mostra um caixão desdobrável completamente vazio. Pede à "partenaire", de maillot verde alface e meias rotas que nele se meta. Fecha-o com aloquetes grandes e dourados.
Por um buraquinho do caixão consegue ver-se o rosto da partenaire com um sorriso de plástico.
A um gesto da vara apagam-se as luzes seguidas dum clarão estrondoso, que parte o caixão em mil bocados. No meio ficou apenas um pequeno cofre de metal dourado, que brilha às luzes dos projectores.
Estão lá os mesmos cadeados fechados. O artista abre-os. Rufam os tambores. Depois abre o cofre e para espanto da plateia, dele transbordam notas e jóias.
O apresentador pede palmas para este artista portugês!
As palmas aparecem, primeiro esparsas, depois mais confiantes, para se tornarem num aplauso imenso.
No meio da plateia há uma voz que pergunta muito sumida: e a moça? onde está a jovem?
Ninguém a ouve!
Já entraram os palhaços na pista e o número que se segue tem umas mocinhas muito bem despidas em cima duns cavalinhos brancos. Quem sabe alguma delas não será a jovem do caixão?
E a festa continua. Agora sim, o público gosta!
O circo anuncia novos espectáculos enquanto a apoteose final tem lugar, com todos os artistas em pista, com excepção do prestidigitador e da sua partenaire: o primeiro, por ter ido fazer uma inauguração e a segunda por se encontrar em parte incerta.

1 Comments:

Blogger gongas said...

Quero ver a evolução do seu blog...
Estou contente, por ter muitas coisas novas no meu blog.
Obrigada...

30/9/06 20:35  

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